Antonio Lopes: 'Voltando com bastante vontade para trabalhar para o Vasco'
Terça-feira, 07/04/2020 - 18:26
Depois de seis vitoriosas passagens que o consagraram como treinador mais vitorioso da história do Vasco, Antônio Lopes, de 78 anos, foi anunciado no último dia 30 como coordenador técnico do clube.

Em coletiva virtual realizada nesta terça-feira - jornalistas enviaram perguntas por vídeo à assessoria de imprensa do clube -, exibida pela Vasco TV, o ídolo cruz-maltino falou sobre os novos desafios que terá pela frente.

Antes de iniciar a entrevista, Lopes reviu imagens de todos os títulos conquistados com a Cruz de Malta a partir dos anos 90. Sobre o retorno, falou em muito trabalho para o clube retomar as grandes glórias.

- Voltando com bastante vontade para trabalhar para o Vasco da Gama possar voltar a ser aquele grande clube de grandes conquistas. O Vasco está sendo muito bem dirigido pelo Campello como presidente, e o Zé Luis agora como vice de futebol. Nos colocamos com o Ramon. O Ramon conhece muito bem o Vasco, está há um tempo no clube. Já sabe a garotada da base que pode utilizar no elenco profissional, conhece também o elenco profissional. Acho que é uma grande conquista a indicação do Ramon para a direção técnica do Vasco.

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Mais elogios a Ramon

Ótimo (trabalhar com Ramon). Foi meu jogador, jogador extraordinário e que participou das grandes conquistas do Vasco. Participou daquele período áureo em que o Vasco ganhou tudo. Ramon foi um dos protagonistas daquele time que conquistou Brasileiro, Libertadores, estadual e Rio São-Paulo. Tecnicamente muito bem, era um jogador extraordinário.
Jogador que já demonstrava muito conhecimento. Sem dúvida nenhuma foi uma boa escolha que Campello e Zé Luis fizeram. Acho que vai dar certo. Se trata de um grande profissional, rapaz muito inteligente. Tem cursos da CBF, fez curso com o Júnior Lopes. Tenho certeza que o Ramon vai se dar bem como técnico da equipe profissional.

Também pelo fato de conhecer toda a base e alguns dos garotos que estão no profissional. E o restante do elenco também. Então está capacitado para fazer um grande trabalho na direção técnica do Vasco.

De quem é a palavra final em relação a escalações?

Em relação à escalação do time e posicionamento da equipe, isso é do próprio treinador. Sempre quando trabalha com o treinador, eu digo: "a minha sugestão é essa, mas a palavra final é sua". A respeito do time, da formatação da equipe. Tudo isso é com o treinador.

O que representa o desafio do retorno no Vasco?

Sempre um desafio. Quando o profissional chega num clube para poder participar dos procedimentos que tem é sempre um desafio, mas tenho certeza que nós vamos conseguir muita coisa no Vasco da Gama.

Brincadeira de Júnior Lopes, auxiliar e filho de Antônio Lopes, sobre o título de 2003 (Júnior diz ao pai que ele é o responsável pelo Carioca daquele ano

Fui expulso, ele quem dirigiu o time ali da beira do gramado, na área técnica. Foi o Júnior com certeza que acabou ganhando aquele time em cima do Fluminense.

Lopes garante que não indicou o filho

Não fui eu quem contratou o Júnior para o Vasco da Gama. Foi o Zé Luis. Ele e Ramon se dão muito bem. O Júnior está sempre atualizado, vê tudo quanto é jogo do exterior. Campeonato da Inglaterra, da Espanha... Está bem atualizado. Até nesse campeonato do Rio de Janeiro ele vai ver jogo de time pequeno.

Camisa verde da sorte

Deu sorte. No Brasileiro, o Vasco iniciou não muito bem, tinha perdido duas partidas e tinha empatado uma. Fomos jogar com o São Paulo, no quarto jogo, e eu coloquei essa camisa verde. Bonita, de linho. Deu sorte, passei a usar na competição toda, e o Vasco acabou sendo campeão daquela competição.

Dona Elza prometeu nova camisa verde

A Elza falou que vai comprar uma nova camisa de linho verde para eu usar nas competições que o Vasco da Gama disputar.

Trabalho como coordenador no penta do Brasil

Trabalhamos junto com o Felipe (Felipão) na Copa de 2002. Todo mundo trabalhava em prol do futebol da nossa Seleção. Felipe era o treinador, eu era o coordenador, o Murtosa era o auxiliar. Nosso grupo era muito coeso e nos dávamos muito bem. Não tinha ciúme e nem problema nenhum. Acho que por isso o Brasil ganhou o pentacampeonato mundial.

Uso dos atletas da base do Vasco

Jogadores egressos da base têm boa técnica e são bem qualificados. Vasco faz bom trabalho na base, haja visto que vários jogadores subiram. Vasco da Gama tem que continuar aproveitando jogadores da base. Sempre fui adepto do aproveitamento dos garotos da base para fazer uma mesclagem.

Vasco tem vários jogadores experientes que podem comandar bem os garotos que vão entrar no time. Ramon conhece bem a garotada e o atual elenco. Vai fazer essa mescla da garotada que está despontando com os mais experientes.

Sempre fiz isso. No Vasco da Gama mesmo fiz grandes times aproveitando garotada da base. Felipe, Pedrinho, Maricá, Geder, Fabiano Eller. Formamos seis grandes times mesclando jogadores da base com experientes.

Início de trabalho

Acho que a gente está um pouquinho tolhido de iniciar um trabalho eficiente em razão do problema do vírus, mas mesmo assim estamos nos reunindo por vídeo e às vezes por telefone. Temos conversado muito com o Ramon, com o Zé Luis, que é o nosso vice-presidente de futebol. Temos conversado com o Júnior Lopes, com o próprio presidente Alexandre.

Não podemos ainda ir a São Januário para arregaçar as mangas. Esse início de trabalho acaba sendo muito difícil pelo problema do coronavírus.

Trabalho aos 78 anos

Acho que idade não é problema. Problema de idade é para quando o cara chega na idade que estou, só fica em casa e enfurnado em casa de pijama e dormindo. Mas eu não sou desse tipo. Sou um cara ativo, todo dia eu faço física. Minha condição física é muito melhor do que muitos garotões por aí. Caminhei e andei aqui no próprio prédio onde moro, tem uma área boa para fazer caminhada e corrida. Fiz uma atividade de 60 minutos. Temos 12 andares aqui no prédio onde moro. Fiz a subida.

Tenho condição física muito melhor do que muito garotão de 50, 40 anos. Todo dia leio normal, vejo os telejornais, leio livros e procuro me atualizar sobre o futebol vendo os jogos do exterior, principalmente dos campeonatos inglês e espanhol. Idade não é problema.

Tenho 78 anos, mas minha condição física e minha condição mental estão muito boas.

Como atuará: ficará mais no futebol com o Ramon, e Mazzuco e Zé Luis cuidam mais dos reforços?

Eu vou trabalhar como coordenador mais diretamente ligado com o grupo de jogadores e comissão técnica. Meu trabalho é em cima de viver o dia a dia da equipe, com os jogos, treinos e vestiário. Mazzuco tem o trabalho específico dele para desempenhar, e o Zé Luis é o meu chefe. É o vice de futebol. Vou dar muitas satisfações dele a respeito do trabalho da comissão técnica.

Tivemos êxito nessa função na Seleção, no Atlhetico do Paraná, no Botafogo. Vou trabalhar mais ligado à comissão e aos jogadores no dia a dia. Fazendo o acompanhamento dos treinamentos.

O que identificam como a maior necessidade nesse momento da temporada?

Eu conheço o plantel do Vasco da Gama de ver os jogos do time. Só à distância que tenho visto o Vasco da Gama. Vamos fazer uma avaliação do nosso plantel quando nos revermos pessoalmente. Vão participar Ramon, Júnior Lopes, Zé Luis e o presidente.

Vasco da Gama tem um bom plantel. Tem excelente goleiro, excelente zagueiro, tem atacantes bons e um bom meio-campo. Acho que o elenco é muito bom, dá para armar um grande time.

Como Lopes se atualizou para chegar ao Vasco?

Eu estou bastante atualizando porque estou acompanhando sempre o futebol brasileiro, da América do Sul e os campeonatos europeus, principalmente da Espanha e da Inglaterra. Vejo o futebol brasileiro pela televisão. Estou bastante atualizado e conheço bem o futebol.

É o maior desafio da sua carreira?

Não é o maior desafio da minha carreira que eu vou participar. Já participei de desafios com muita constância. É mais um que vou ter e eu sei certamente como terei que agir.

Mais sobre Ramon

Acho que o nosso treinador foi bem escolhido, porque ele reúne todas as condições que um grande treinador deve ter. Ele já foi do Joinville, do Guarani-MG, do Tombense. Ele está tranquilo e vai saber como trabalhar. Vai trabalhar no sentido de blindar o nosso plantel, que é muito bom. Nossos jogadores têm boa qualidade.

Como tentará repetir as glórias conquistadas como treinador agora na função de coordenador?

Nosso trabalho juntamente com comissão técnica vai ser nesse sentido de fazer o Vasco da Gama voltar às grandes conquistas que sempre teve. Vamos arregaçar as mangas diariamente para fazer o Vasco ganhar grandes títulos. Temos a Sul-Americana, perdemos o primeiro jogo da Copa do Brasil para o Goiás em São Januário, mas temos condições de reverter isso em Goiânia.

Semelhanças com o grupo de 1996?

Quando assumi em 1996, o Vasco não estava bem e tinha o risco de cair para a Série B. Não tinha um grupo de jogadores de boa qualidade. No início de 1997, liberamos vários jogadores porque o plantel de 1996 tinha uma qualidade muito baixa. Nesse ano não. O Vasco tem um bom elenco, com jogadores experientes e jovens de qualidades. Totalmente diferente.

Promoção de Philippe Coutinho em 2010

Philippe Coutinho vinha se destacando na base, garoto que já mostrava muita qualidade. Nós chegamos a puxar para a equipe principal. Fez vários treinos conosco e aconteceu o que já prevíamos. Acabou estourando como grande atleta e foi transferido para o exterior.

Vai contratar reforços?

Temos um elenco bem qualificado, depois que vamos ver com a sequência de jogos e talentos. Aí vamos ver a necessidade de contratar ou não.

Craques da base

Junto com eles, coloquei mais jogadores. Lembro que em outra época coloquei Mazinho, Bira e Romário. Todos vinham do time júnior. Lembro que o Vasco tava sem dinheiro também, e o então presidente Antonio Soares Calçada me deu total liberdade. Depois vieram Felipe, Pedrinho, Géder e outros vários jogadores.

Entendimento entre Felipe e Pedrinho

Se entendiam muito bem desde o salão. Depois que vai para o campo e se adapta, se torna um grande jogador. O futebol de salão propicia isso.

Relação com ex-comandados

O Pedrinho eu encontro sempre, também encontro o Felipe, que tem um filho que joga na escolinha. Meu neto também está jogando nessa escolinha. O Edmundo, que foi um grande jogador do Vasco da Gama, eu encontro. O Brasileiro de 1997 teve o Edmundo como protagonista, praticamente foi ele quem ganhou aquele campeonato. Donizete, Luizão também falam comigo. O Juninho Pernambucano também quando estava aqui no Brasil.

Craques da base

Junto com eles, coloquei mais jogadores. Lembro que em outra época coloquei Mazinho, Bira e Romário. Todos vinham do time júnior. Lembro que o Vasco tava sem dinheiro também, e o então presidente Antonio Soares Calçada me deu total liberdade. Depois vieram Felipe, Pedrinho, Géder e outros vários jogadores.

Entendimento entre Felipe e Pedrinho

Se entendiam muito bem desde o salão. Depois que vai para o campo e se adapta, se torna um grande jogador. O futebol de salão propicia isso.

Relação com ex-comandados

O Pedrinho eu encontro sempre, também encontro o Felipe, que tem um filho que joga na escolinha. Meu neto também está jogando nessa escolinha. O Edmundo, que foi um grande jogador do Vasco da Gama, eu encontro. O Brasileiro de 1997 teve o Edmundo como protagonista, praticamente foi ele quem ganhou aquele campeonato. Donizete, Luizão também falam comigo. O Juninho Pernambucano também quando estava aqui no Brasil.

Garimpo de Odvan e Nasa nos times pequenos

Eu peguei o Odvan de um time pequeno, o Americano. Ninguém conhecia o Odvan. Conseguimos quando ninguém esperava. Acabou se tornando um zagueiro, foi até para a seleção brasileiro. Bom zagueiro. Tinha todas as características de um bom zagueiro, muito rápido e com uma impulsão muito boa defensiva e ofensiva. Fez muitos gols. Foi um grande jogador, e nenhum clube grande enxergou.

Mesma coisa foi com o Nasa, que era do Madureira. Foi um dos melhores volantes da história do Vasco. Protegia muito o Mauro Galvão e o Odvan. Coloquei sempre o Nasa para poder pegar o outro atacante junto com o Odvan, e o Mauro Galvão sobrava e deitava e rolava com a sua qualidade.

História do Romário: por que ele usava a 11?

Estávamos em 1986, aí nós fomos fazer uma excursão pelo Espírito Santo para preparar a equipe para o Carioca. Romário era reserva. Tinha o ataque com três atacantes: Roberto, Mauricinho e Silvinho. Na preparação, o Silvinho se machucou, e o Romário era reserva.

Romário já era marrento pra caramba e falou: "professor, tenho que jogar no lugar do Roberto, que está ultrapassado". Eu disse: "Calma, garoto, vai chegar sua vez". Falei: "Vou botar o Romário pelo lado esquerdo para vai como vai ser portar". Aí fui obrigado a dar a camisa 11 para o Romário.



Fonte: GloboEsporte.com