Mulheres têm pouca representação nos Conselhos Deliberativos dos clubes; conselheira vascaína comenta
Sexta-feira, 06/03/2020 - 11:47


O Dia das Mulheres se aproxima e os clubes de futebol farão homenagens. Domingo, dia 8 de março, jogadores entrarão em campo com camisas pedindo o fim da discriminação, exaltando a participação feminina no universo da bola. Mas quantas mulheres estão, de fato, no dia a dia das decisões desses clubes? Um levantamento feito pelo Globo Esporte mostra que a realidade está longe de ser alterada. Atualmente, em 20 clubes da série A do Brasil há 6887 conselheiros*. Entre eles, apenas cerca de 3,6% são mulheres.

*Não estão na pesquisa o Goiás. O clube não informou a quantidade de mulheres, nem a de conselheiros homens. E o Bragantino, por ter estrutura empresarial e não associativa, portanto, não tem conselho.

O Atlético-GO é o pior em representatividade. São 28 homens e nenhuma mulher. O São Paulo é o segundo pior, com apenas duas mulheres num total de 227 conselheiros (0,8%). O Vasco e o Sport vêm na sequência, com três mulheres, em 300, e duas em 200, respectivamente (ambos têm 1% de mulheres).

"O clube tem recebido cada vez mais pedidos de sócias mulheres, porém, devido a esse engajamento ser algo novo, ainda não contamos com um membro efetivo no conselho deliberativo.", respondeu a assessoria de imprensa do time goiano.

Os clubes de maior participação feminina, embora ainda baixa, são: o Internacional, com 31 mulheres, em 346 (8,9%). Seguido de Fluminense, com 16 em 249 (6,4%) e o Atlhetico Paranaense, com 9 em 166 (5,4%).



Para fazer parte do conselho, na maior parte dos clubes, é necessário comprar um título de sócio e entrar numa chapa nas eleições. Sthefanni Ganam, 34 anos, tem tentado entrar no Corinthians. Ela explica que uma questão histórica social diminui a presença de mulheres nestes espaços.

"De 200 conselheiros nessa última eleição apenas oito foram mulheres. A questão principal é que só o titular do título pode votar ou ser votado. E culturalmente as mulheres são dependentes, ou por uma questão social não tinham valores. Isso a gente está falando lá atrás, porque a democracia no Corinthians é algo muito novo".

No Flamengo, clube com o maior número de conselheiros (2560), são 109 mulheres (4,2%). Mas a frequência nas reuniões é muito menor, tanto de homens, quanto de mulheres. Entre 300 e 400 homens para cerca de 4 mulheres participantes. Entre elas, apenas uma faz questão de pegar o microfone em todas as sessões:

"É um ambiente muito masculino e eu desde que entrei eu comecei já a falar pra eles, inclusive pelo microfone que eles tinham que se acostumar a ter uma presença feminina mais forte, mulheres com opiniões fortes porque eles estavam muito mal acostumados. Eu causei reações muito negativas. Eu também me colocava de maneira um pouco agressiva, é verdade, mas como reação à negatividade que eu sentia "como assim, quem é essa? Quem é essa mulher, o que ela faz? Da onde vem? Ela fica colocando as ideias dela... o que que ela sabe de futebol? O que ela sabe de Flamengo?", afirma Marion Kaplan, 48 anos, conselheira há pouco mais de um ano.

"A primeira vez que eu peguei o microfone eu fui vaiada. Aí o presidente na ocasião pediu pra parar. Hoje em dia, não. Hoje em dia quando eu pego o microfone normalmente as pessoas me ouvem, se faz silêncio pra me ouvir. Quando comecei na vida política era o tempo todo. Vai lavar uma louça, vai assar um bolo, aí eu retrucava: vai ler livros, era assim mais ou menos", completa.

No Vasco, time cuja representatividade é de 1%, Claudete Azevedo, 51 anos, não costuma pedir a palavra. No conselho desde a última eleição, em 2017, ela conta que levou um susto na primeira reunião de conselheiros.

"Você vê quase 300 homens e duas mulheres eleitas, tem uma que é nata (conselheira), mas só vejo as duas eleitas, mais presentes. E o comportamento, muitas vezes hostil, truculento, até na fala dos próprios homens entre si. Então, imagina, a mulher fica mais inibida ainda. Não tem espaço de fala que eu pensei que nós pudéssemos ter.", conta Claudete.

O Conselho Deliberativo de um clube é como o Congresso, num país. Por ele passam as principais decisões administrativas da instituição, como aprovação de orçamento, prestação de contas, aprovação de patrocínios e decisões como a continuidade de um presidente, por exemplo.

Um exemplo de como mudar este cenário vem do Nordeste. No Bahia, embora os assentos sejam ocupados por apenas 4% de mulheres, o clube mudou seu estatuto e, a partir das próximas eleições (este ano), todas as chapas deverão ter, no mínimo, 20% de mulheres.

Figueirense

No Figueirense, clube que joga atualmente a série B, uma nova diretoria acaba de assumir o conselho. Entre os cinco membros do novo corpo diretivo estão duas mulheres, Vera Lúcia Rodrigues (1ª vice-presidente) e Consuelo Haviaras (secretária-geral)

Consuelo comanda uma ala jovem do conselho, que já atua há algum tempo no clube. Já Vera, tem uma história bem antiga no clube e foi presidente do IFAS (Instituto Figueirense de Assistência Social), projeto que fazia ações em comunidades carentes e acabou extinto.

Fonte: Blog da Gabriela Moreira - GloboEsporte.com