Torcedores vêm interagindo com dirigentes e oferecendo ajuda para contratações
Quarta-feira, 15/01/2020 - 10:24
Ricardo Rotenberg virou "camarada de Twitter" da torcida do Botafogo. Um dos responsáveis pela gestão do futebol durante o período de transição para o formato de clube-empresa, ele é ativo nas redes sociais e aberto às sugestões de jogadores feitas pelos torcedores. Rotenberg lê os comentários no Twitter e responde à maioria. Segundo o dirigente, as sugestões servem como uma primeira etapa no mapeamento do mercado:

— Muitos torcedores acompanham muito futebol. A maioria das sugestões são interessantes. Depois elas vão para o nosso setor de análise. Tem pessoas que equivocadamente acham que é uma atitude amadora, mas as sugestões são apenas o primeiro estágio de análise. Ouvir o torcedor é justo porque, no fim, ele é a razão de ser dos grandes clubes.

As interações de Rotenberg são apenas um exemplo que mostra como ficou para trás o tempo em que o torcedor se restringia aos pitacos sobre escalação e precisava gritar da arquibancada para ser ouvido por técnicos e dirigentes. A capacidade de interferência aumentou e está mais sofisticada. As redes sociais inauguraram a era dos torcedores analistas de desempenho, olheiros e até intermediários nas negociações. Ainda que o clube eventualmente não queira, está cada vez mais difícil não escutá-los.

Isso não se aplica ao dirigente alvinegro. Segundo Rotenberg, a troca pode gerar frutos. Ele citou a recente contratação de Federico Barrandeguy como exemplo. Ele ouviu o nome do lateral-direito pela primeira vez em uma das interações com torcedores. Inicialmente, o clube não se mexeu. Quando Marcinho lesionou o joelho direito, tendo que passar por uma artroscopia, o nome do uruguaio foi oferecido e o Botafogo topou.

Um dos torcedores que entraram em contato com Rotenberg foi Yago Serpa. Aos 26 anos, é carioca e trabalha com tecnologia da informação. Gasta parte considerável de seu dia vivendo o Botafogo. Atento ao momento do alvinegro, elaborou uma lista de potenciais reforços para 2020. Pelo Twitter, entrou em contato com o dirigente. Queria conversar com ele no privado, evitar atrair a atenção de clubes rivais para suas indicações, "jogadores que eles geralmente não olhariam". O torcedor não avançou no diálogo com Rotenberg e resumiu o que motivou a iniciativa:

— Infelizmente, o clube não tem uma equipe de inteligência qualificada e parece estar refém dos atletas vinculados a empresários.

No geral, as indicações são de nomes que extrapolam a realidade financeira alvinegra. No fundo, valem mais os pontos somados com a interação com os torcedores e a sensação que dá a eles de que estão ajudando de fato o Botafogo. Às vezes, a sinceridade em excesso acaba saindo pela culatra. Foi o caso quando Rotenberg admitiu a um torcedor que não estava ciente da chegada do volante Luiz Otávio e foi alvo de críticas.



Convite a volante

Outro dirigente carioca habitué das redes sociais é Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo. Para ele, dinheiro não é problema. Seu torcedor-olheiro tem menos restrições. Quando o clube esteve atrás de um centroavante e tentou Balotelli, Braz foi marcado na página do Instagram de Llorente, atacante espanhol que estava no Tottenham, da Inglaterra, e ainda ganhou a dica do rubro-negro: o jogador viria a custo zero, o contrato com os Spurs estava acabando.

Existe ainda o torcedor que resolve ir mais longe e fazer a ponte entre jogador e clube. Wallace Neguere é vascaíno. De uns tempos para cá, o empresário de 39 anos, morador de Brasília, ganhou fama no Twitter com os vídeos que faz sobre o Vasco, muitas vezes interagindo com o filho. Diante da necessidade de o clube contratar um volante, ele entrou em contato com Sandro, ex-jogador da seleção, que está livre no mercado. Depois da insistência no Instragram, recebeu uma resposta: "Estou só aguardando a proposta".

Depois de Sandro abrir o canal, Neguere diz que levou a questão ao departamento de futebol cruz-maltino, graças a contatos que possui. Recebeu como resposta que o clube já tem outros nomes em vista, mas o saldo, ainda assim, foi tido como positivo:

— A voz do torcedor precisa ser respeitada. O jogador fica sabendo da força de um clube já nas redes sociais.

Cavadas do outro lado

Na interação com o torcedor vascaíno, Sandro deu uma ligeira "cavada" — não foi o primeiro e nem o último jogador a usar as redes sociais para se insinuar. O alemão Podolski flerta com o Flamengo nas redes sociais desde a Copa do Mundo de 2014. Pelo patamar financeiro alcançado pelo clube, poderia ser um alvo viável, se fosse de interesse de Braz e cia. Aos 34 anos, atualmente defende o Vissel Kobe, do Japão.

Outro caso, este bem recente, é o de Fred. O ex-atacante da seleção está com o futuro indefinido após o rebaixamento do Cruzeiro para a Série B. Com salários acima da realidade da Raposa, busca um lugar em 2020. Essa semana, chamou atenção ao interagir com uma postagem do Bahia no Instagram, em que o clube apresentava detalhes do novo centro de treinamento. Foi o suficiente para que torcedores entendessem como uma cavada do veterano de 36 anos.

Fonte: O Globo Online