São Januário custou cerca de R$ 321 milhões em valores de hoje; Vasco tenta repetir campanha de arrecadação para construir CT
Terça-feira, 12/11/2019 - 17:04
Quando um sócio do Vasco entra em São Januário pela fachada principal e desce as escadas em direção ao gramado, ele vê ali o busto de um presidente do clube. Trata-se de Raul Campos, o responsável pela construção do estádio que tanto orgulha os torcedores.

A história por trás desse feito é mais atual do que se pode supor: assim como faz atualmente para o centro de treinamento, o Cruz-Maltino buscou em seu maior patrimônio - a torcida - a força para erguer o que foi, na época, o maior estádio da América Latina.

A campanha de financiamento do CT, lançada pelo Vasco em agosto, resgata a história de São Januário. No início dos anos 1920, a diretoria cruz-maltina iniciou os planos para a construção de um estádio. O dinheiro veio de doações e de um maciço programa de adesão de sócios: em 1927, estava erguido São Januário.

O custo da época é difícil de mensurar - o registro contábil do ano de 1927 não sobreviveu ao tempo. Numa reportagem de 16 de março de 2914, o jornal Imparcial anunciava a decisão do Vasco em construir o estádio e informava que um empréstimo de 2 mil contos de réis seria tomado. Numa conversão básica, o valor equivale aproximadamente a R$ 246 milhões atualmente.

Era preciso, primeiro, comprar o terreno. O escolhido foi o local conhecido como Chacrinha do Imperador, então de propriedade da Sociedade Anonyma Lameiro. O Vasco adquiriu a área de 65 mil m² por algo em torno de R$ 75 milhões na moeda atual.

Assim, somando-se os dois custos, é possível estimar que São Januário custou cerca de R$ 321 milhões.

De onde veio o dinheiro?

Para conseguir a grana, o Vasco iniciou uma campanha maciça de adesão de sócios, que ficou conhecida como a Campanha dos 10 Mil. A isso juntaram-se vascaínos mais ricos, especialmente portugueses, com doações de maior vulto, e o lançamento de crédito no mercado, com juros de 9% ao ano, que o Vasco só terminou de pagar na década de 1940.

- Nós tivemos três frentes de arrecadação. Uma arrecadação entre os próprios vascaínos, pessoas com delegação do clube, iam no comércio, do mais humilde ao mais gabaritado, como representante do Vasco, se apresentavam assim, e expunham o projeto, pegando a contribuição que cada um pudesse dar. A segunda vertente foi o lançamento de uma campanha, até então inédita, com o lançamento de dez mil títulos de sócios. E ainda assim lançamos uma campanha de resgate, de debêntures no mercado, que depois a pessoa iria resgatar - contou João Ernesto Ferreira, atual vice-presidente de Relações Especializadas do Vasco.

Dinheiro levantado, o processo correu rápido. Em 6 de junho de 1926, foi lançada a pedra fundamental de São Januário, hoje enterrada na social do estádio. Em 21 de abril de 1927, o Stadium Vasco da Gama foi inaugurado.

O sócio número 1 do Vasco

Quem cortou a fita foi Raul Campos, então presidente do Vasco, ao lado do presidente do Brasil na época, Washington Luiz. Por todos os esforços na construção, Campos foi agraciado com o título de sócio proprietário número 1 do clube. E essa honraria passou pela família.

Hoje, o sócio número 1 do Vasco é o sobrinho-neto de Raul: José Augusto Campos. Dando sequência à tradição da família, ele já colaborou para a construção do centro de treinamento do Vasco.

- Isso deixa a gente lisonjeado, saber que tivemos participação naquilo ali. A família toda teve participação muito importante na construção de São Januário. E hoje estamos aqui, ajudando mais uma vez o Vasco a construir seu patrimônio. Não posso deixar de participar disso. Toda vez que o Vasco chama a torcida, ela sempre vem e colabora. É uma das histórias mais bonitas que tem hoje no futebol - afirmou José Augusto.

A história se repetindo

Atualmente, o Vasco arrecadou pouco mais de R$ 2,6 milhões dos R$ 6 milhões iniciais para o CT. A campanha já está em sua segunda fase. Para João Ernesto Ferreira, é a história do Vasco se repetindo.

- Esse movimento de hoje, que visa angariar recursos para que possamos construir algo também muito desejado, isso a nós, vascaínos mais velhos, nos remete aquilo que aconteceu na década de 20, para com os nossos avós e bisavós, que foi a construção de São Januário. E chegou a hora de nós, netos e bisnetos, respondermos "presente" para a construção do Centro de Treinamento. E assim faremos.

- São Januário, assim como o CT, é fruto do sangue, suor, lágrima e recursos dos vascaínos.

Assim como na época do CT, a ajuda vem de todas as classes sociais. De acordo com o vice-presidente de Obras e Engenharia do Vasco, Pedro Seixas, a maior parte das doações foram de pequeno valor.

- Um dos pontos muito fortes dessa primeira fase foi que a grande maioria das doações veio da contribuição pequena. Foi a participação em massa mesmo da torcida, e não de um grande doador. Isso a gente pretende trabalhar um segundo momento - explicou Seixas.

É assim que o Vasco espera escrever mais um capítulo de sua história: com a ajuda de seus torcedores, do mais humilde ao sócio número 1:

- Agora estou podendo ter a oportunidade que meu tio fez na época, que é ajudar o Vasco a construir mais um patrimônio, que seria o CT. Eu fiz minha contribuição, já consegui outras pessoas, amigos meus, para contribuir também - completou José Augusto Campos.





Fonte: GloboEsporte.com