Jorge Luiz Rodrigues

A tranquilidade era um dos traços de Antônio Soares Calçada, o mais vitorioso presidente do Vasco e que hoje faleceu aos 96 anos. Até nos momentos conturbados e difíceis, jamais tratou mal ou desrespeitou os jornalistas. O único dia que o vi fora de si foi em 12 de março de 1988. Naquele sábado, véspera de clássico com o Fluminense, pelo Campeonato Carioca, Calçada me procurou logo assim que cheguei ao clube para mais um dia de cobertura, que começara quente.

Na véspera, eu havia conseguido um furo de reportagem. E naquele sábado, publiquei um alto de página no Jornal O Globo, em que o hoje falecido meia/ponta Dirceu fez pesadas críticas ao técnico Sebastião Lazaroni. Inconformado com a barração, entre outros termos, o jogador, então com 36 anos, chamou o treinador de "idiota, desonesto e desatualizado".

- A rescisão do contrato de Dirceu é definitiva. Ele não desrespeitou apenas o técnico do Vasco, mas o clube inteiro - vociferou Calçada, acrescentando que se sentia revoltado com as declarações do jogador publicadas no Globo. - Li no Globo, e, para mim, foi o suficiente.

Naquele manhã, a diretoria se reuniu e sacramentou o fim da passagem de apenas 7 jogos pelo Vasco de Dirceu - o destaque da seleção brasileira na Copa do Mundo-1978. O jogador nem apareceu no clube, após ser comunicado pelo supervisor Paulo Angioni.

Sem o veterano, ganharam mais espaço Bismarck e Vivinho. E o time cresceu. O Vasco, com Romário e sob o comando de Lazaroni, ganharia o título carioca três meses depois, derrotando o Flamengo com aquele épico gol do Cocada.

Que o ex-presidente Calçada descanse em paz.

Fonte: Facebook do jornalista Jorge Luiz Rodrigues