Relembre a Sele-Vasco, campeã brasileira em 1989
Quarta-feira, 31/07/2019 - 23:22
Ainda não completou exatamente 30 anos, mas já me antecipo. Foi no dia 16 de dezembro de 1989 que o Vasco da Gama conquistou o Brasileirão, o segundo dele (o primeiro tinha sido em 1974).

Muitas vezes ficamos na dúvida se o melhor venceu um campeonato. Só que certamente aquele Vasco foi um campeão indiscutível. Um time ao mesmo tempo moderno e com imensa qualidade técnica.

Não era a fórmula dos pontos corridos. Era bem confusa, inclusive. Vamos resumi-la:

Primeira Fase

Disputada entre 6 de setembro e 21 de outubro, reuniu as 22 equipes divididas em dois grupos de onze, jogando em turno único dentro do grupo. Os oito primeiros de cada grupo classificavam-se para a segunda fase, os três últimos de cada grupo jogavam o Torneio de Rebaixamento.

Segunda Fase

Disputada entre 28 de outubro e 9 de dezembro. Os 16 classificados foram divididos em dois grupos de oito, jogando em turno único apenas contra os clubes do outro grupo. Os pontos eram somados aos obtidos na fase anterior. Classificavam-se para a final o vencedor de cada grupo, na soma dos pontos das duas fases.

Torneio de rebaixamento

Disputado entre 28 de outubro e 14 de dezembro. Os seis clubes não classificados na primeira fase jogam entre si em dois turnos, sendo os quatro últimos rebaixados para a Série B no ano seguinte.

Final

Disputada em 16 de dezembro, entre o vencedor de cada grupo. Os dois finalistas enfrentam-se num máximo de dois jogos, mas a equipe de melhor campanha em todo o campeonato tinha o direito de escolher o local do jogo de ida e só precisava de dois pontos (uma vitória ou dois empates) para ser campeã.

Vasco e São Paulo foram os finalistas. O Gigante da Colina, dono de melhor campanha no geral, tinha vantagem na decisão. O clube carioca pode inclusive escolher se mandaria ou não o primeiro confronto diante do Tricolor Paulista. E como precisava de dois empates ou um simples vitória, o Brasileirão de 1989 já poderia terminar no primeiro duelo.

Surpreendentemente, o Vasco optou por jogar a primeira partida no estádio do Morumbi, a casa do São Paulo Futebol Clube.

A equipe cruz-maltina não quis, de forma alguma, menosprezar o bom time paulista. Foi algo estratégico. Na cabeça dos dirigentes vascaínos, principalmente na de Eurico Miranda, passava o seguinte pensamento: se o Vasco vencer no Morumbi, ótimo. Se não conseguir vencer lá, tem totais condições de conquistar o título no Maracanã e ainda terá enorme renda.

Não houve necessidade do duelo na Cidade Maravilhosa. Sorato fez o gol que garantiu o título ao Vasco da Gama, após um cruzamento milimétrico do lateral-direito Luiz Carlos Winck (ex-Internacional). O Vasco foi campeão brasileiro de 1989 em um sábado. Um dia antes da eleição de Fernando Collor de Mello para a presidência da república.

Os principais nomes do elenco

Acácio – O experiente goleiro foi peça fundamental para a conquista do Brasileirão de 1989. Manteve regularidade durante toda a competição e teve uma atuação fantástica na decisão no Morumbi. As atuações naquele ano certamente contribuíram para que ele fosse convocado por Sebastião Lazaroni para ser um dos reservas de Taffarel na Copa da Itália de 1990.

Luiz Carlos Winck – Quando surgiu no Internacional, Luiz Carlos Winck já despontou como um dos melhores laterais-direitos do futebol brasileiro. Entre 1987 e 1988 foi muito disputado por times paulistas, principalmente Palmeiras e Corinthians. Mas quem o tirou do Beira-Rio foi o Vasco, em 1989. Dos pés dele saiu o cruzamento perfeito para o gol de Sorato contra o São Paulo. Depois do Vasco, Luiz Carlos Winck ainda atuou bem por Grêmio e Corinthians.

Marco Aurélio – Zagueiro jovem, que se destacou apenas naquele Brasileirão. Não ganhou fama, mas fez uma temporada até boa. Não comprometeu nos jogos finais e se garantiu como titular nos principais duelos. Veio do América e também defendeu o União da Ilha da Madeira (Portugal), Sporting (Portugal), Vicenza (Itália), Palermo (Itália) e alguns outros times menores italianos.

Quiñonez – O cabeludo equatoriano teve uma rápida e até marcante passagem por São Januário. Embora não tivesse tantos recursos e não fosse um beque alto, Quiñonez é até hoje lembrado com carinho pelos cruz-maltinos. Veio do Barcelona de Guayaquil e depois do Vasco defendeu o Emelec, também do Equador, e o União da Ilha da Madeira, de Portugal.

Mazinho – Lateral-esquerdo, lateral-direito e que depois virou meio-campista. Todas as funções desempenhadas com brilhantismo. O versátil Mazinho foi um dos melhores jogadores daquele Brasileirão. Anos depois brilhou com a camisa do Palmeiras. Foi titular da seleção brasileira campeã mundial em 1994.

Zé do Carmo – Ídolo do Santa Cruz, o volante chegou para reforçar o Vasco no final de 1988. O time do Vasco era muito técnico e leve. Zé do Carmo era um dos símbolos da raça daquela equipe. Líder e excelente marcador, carregou o piano no meio-campo do time campeão brasileiro. Jogou também na Acadêmica de Coimbra (Portugal), CRB (AL) e teve mais uma passagem pelo Cobra Coral.

Marco Antônio Boiadeiro – Sabia fazer muito bem a função de armador e segundo-volante. Extremamente técnico, Marco Antônio Boiadeiro começou a carreira no Botafogo de Ribeirão Preto e ganhou fama no time do Guarani (vice-campeão brasileiro de 1986 e vice-campeão paulista de 1988). Teve ainda excelente passagem pelo Cruzeiro. Também defendeu o Corinthians, já perto do final de carreira.

Bismarck – Cria de São Januário, Bismarck era um dos mais jovens do elenco, com apenas 20 anos. O meia-atacante era tido como uma das maiores promessas do clube e fez parte da seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1990. Tinha talento, mas não explodiu como se esperava. Jogou ainda em equipes do futebol japonês e teve discretas passagens por Fluminense e Goiás.

William – Natural de Cuiabá (MT), o baixinho William era considerado um dos jogadores mais inteligentes taticamente da equipe comandada pelo técnico Nelsinho Rosa. Sabia fazer muito bem a recomposição tão falada nos dias de hoje. Canhoto, atuava como meia e falso ponta-esquerda. Brilhou mesmo com a camisa cruz-maltina, mas teve passagens ainda por outros clubes, entre eles Flamengo, Atlético Mineiro e Guarani.

Sorato – Mais um jovem jogador daquele bom elenco vascaíno. O centroavante Sorato, que é natural de Araras (SP) e primo do goleiro Velloso (que fez fama no Palmeiras), mostrou faro de gol logo nas primeiras partidas do time profissional. Curiosamente foi o herói da final de 1989, marcando gol contra o São Paulo, time de infância do atacante. Jogou ainda por Palmeiras, Bangu, Botafogo, Santa Cruz e Fluminense, mas até hoje é chamado de "Sorato do Vasco", por ser muito querido pelos cruz-maltinos.

Bebeto – Foi uma gigante novela a vinda de Bebeto para o Vasco. Não só gigante como também polêmica, afinal o craque trocou o Flamengo pelo maior rival. Maduro, Bebeto foi o jogador mais importante do time naquele Brasileirão. Sabia fazer a função de camisa 10 ou 9. Completo. Não à toa foi um dos grandes jogadores produzidos pelo país. Essencial também na seleção vitoriosa de 1994.

Tita – Não jogou a final contra o São Paulo, mas também foi outro ex-flamenguista importante naquele título de 1989. Ótimo tecnicamente, Tita também era um jogador versátil, moderno para a época. Sabia fazer todas as funções de meia e de atacante. Brilhou no Flamengo, no começo de carreira, foi muito bem no Vasco e ainda defendeu com brilho as camisas do Grêmio, Internacional, Bayer Leverkusen (Alemanha), Pescara (Itália), Léon (México) e Puebla (México).

Andrade – Assim como Tita, outro craque do Flamengo campeão mundial de 1981 que foi vencedor com a camisa do Vasco. É verdade que o bom volante Andrade não conseguiu se firmar como titular daquele time cruz-maltino, mas ajudou o Gigante da Colina a levantar o caneco em 1989.

Célio Silva – Zagueiro que fez fama com as camisas do Internacional e do Corinthians nos anos 90, Célio Silva era um novato no elenco vascaíno em 1989. Um reserva imediato do Marco Aurélio e do equatoriano Quiñonez. Nunca conseguiu se firmar como titular em São Januário, mesmo sendo um bom beque.

Tato – Ponta-esquerda campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984, Tato era um dos reservas de luxo daquele time vascaíno. Um dos melhores jogadores da posição naquela década, Tato até que jogou bem na equipe comandada por Nelsinho Rosa, mas não se pode comparar com as atuações nos tempos de Flu.

Nelsinho Rosa – Ex-meia do Flamengo nos anos 60, Nelsinho Rosa teve seu melhor ano como treinador em 1989. Também comandou o Fluminense e times menores do Rio, entre eles o tradicional Madureira.



Fonte: Blog Baú do Micheletti - Fox Sports