Remo: Fabiana Beltrame comenta 1º dia de competições e fala sobre ausência nos Jogos Olímpicos

Domingo, 07/08/2016 - 05:28
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“Ainda bem que eu não estava na água.” O comentário de Fabiana Beltrame na tribuna de imprensa dá a dimensão de como foi difícil remar na Lagoa no primeiro dia de competição nos Jogos Olímpicos do Rio. O vento Noroeste que atingiu a metade final da raia logo após o início das provas provocou a virada do Dois Sem da Sérvia, gerou resultados inesperados e causou apreensão e descontentamento entre os atletas.

“Estive muito perto de afundar, o que geralmente seria uma indicação de que a raia não estava remável”, reclamou a australiana Km Brennan (ex-Crow), atual campeã mundial no Single Skiff Feminino. Ela foi superada por Kenia Alanis, do México, e Micheen Thornycroft, do Zimbábue, na primeira bateria da prova, mas não culpou apenas o vento pelo resultado. “Nós cometemos o erro de escolher o barco para águas calmas. Mudou muito rápido, eu fiquei com o barco cheio d’água”, explicou.

O dia começou dentro do esperado para os homens. O cubano Angel Founier ganhou a primeira bateria do Single Skiff, com o mexicano Juan Cabrera em segundo. O neozelandês Mahe Drysdale, atual campeão Olímpico, também venceu, assim como o britânico Alan Campbell e o tcheco Ondrej Synek. As surpresas começaram na última bateria do Single Skiff Masculino, com o norueguês Jakob Hoff superando o favorito Martin Damir, da Croácia.

O momento crítico foi a virada de Milos Vasic e Nenad Bedik, no quarto final da última bateria do Dois Sem Masculino. “Está difícil. É como subir uma escada e quando você está no meio do caminho o degrau parece três vezes mais alto”, descreveu o neozelandês Hamish Bond, que viu os sérvios virarem logo atrás do seu barco, a caminho de conquistar a 67ª vitória internacional consecutiva com Eric Murray.

As condições da raia causaram atraso no programa e foram o assunto no pátio dos barcos. “Você quer remar com as pessoas no seu melhor. Conversei com muita gente e eles estão tão desapontados quanto eu”, afirmou a neozelandesa Emma Twigg, campeã Mundial no Single Skiff Feminino em 2014. “A que ponto isso é para os atletas? Essa é uma questão para a FISA e sem dúvida os chefes de equipe a estarão fazendo esta noite”, completou.

Fabiana Beltrame, que conquistou a vaga para competir nessa prova mas ficou fora devido à nova regra de classificação da FISA, entende o sentimento das atletas. “Você passa quatro anos treinando e na hora não consegue fazer o seu melhor por causa da raia. É frustrante”, disse ela, que está comentando as provas para o Sportv, após disputar as três últimas Olimpíadas. “No início fiquei triste, mas depois vi a oportunidade de viver uma experiência diferente, já que nunca pude assistir aos meus ídolos nos Jogos Olímpicos.”

Também comentarista do mesmo canal, Ronaldo Carvalho diz que o fato de conhecer a raia não será uma vantagem para os barcos brasileiros, que estreiam este domingo. “Esse vento é ruim para todo mundo. Não é como nos Jogos de Londres, onde o vento favoreceu quem estava na raia 1 e prejudicou a 6. Aqui é igual para todos”.

Além de forte, a ponto de deixar a raia com “carneirinhos” (quando a marola faz espuma), o vento mudou de direção durante a manhã, passando de Noroeste a Norte e depois Leste. O calor também castigou os remadores, com a temperatura indo de 26ºC, às 9h, a 33ºC, ao meio-dia. O público também sofreu fora d’água, com filas nas lanchonetes e nos banheiros.

Apesar das queixas dos atletas, o presidente da FISA, Jean-Christophe Rolland, descartou mudanças na programação. “Nós olhamos três fatores importantes: segurança, equidade e ‘remabilidade’. Hoje, determinamos que os atletas não estavam em perigo na raia, as condições foram consideradas as mesmas nas seis raias, e era remável, significando que os barcos não estavam afundando. A previsão não é de que o tempo melhore nos próximos quatro dias e nós continuaremos a usar esses três fatores para determinar como a competição irá seguir. Por enquanto não há mudança no programa. Essas condições vão testar a habilidade dos atletas”, afirmou ao site da entidade.

O campeão Drysdale, discordou da avaliação. “Meu argumento é que durante os treinos em condições similares a Lagoa foi fechada duas vezes. Se é perigoso para treinar, é perigoso para competir?”, questionou, via Facebook. “Vou remar em qualquer condição que me disserem, não vou desfrutar em algumas delas, mas é um esporte ao ar livre. Sim, condições difíceis exigem habilidade, mas há um ponto quando a sorte conta mais que a habilidade e hoje, em alguns momentos, foi o caso”, escreveu, acrescentando: “Eu certamente não gostaria de ver medalhas Olímpicas sendo decididas nessas condições”.



Fonte: Remo em Voga (texto), Reprodução Internet (foto)