Remo: Fabiana Beltrame reafirma intenção de encerrar a carreira no fim de 2016

Sexta-feira, 13/05/2016 - 11:56
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Ainda com uma grande dúvida sobre a participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a remadora multicampeã Fabiana Beltrame, por outro lado, tem uma certeza: abandonará o remo de competição ao fim de 2016. E ela garante que não há nada que possa demovê-la desta decisão. Nem um eventual apelo do presidente Eurico Miranda, com quem tem uma ótima relação:

- Vai ser difícil (risos). Mas já é uma decisão tomada. Já estava pensando nisso há muito tempo. Então acho que seria bom encerrar aqui no Rio, de repente competindo na Olimpíada. Eu espero que isto se concretize - contou com exclusividade ao Polidesporto Vascaíno/SempreVasco.com.

Para que a carreira de Fabiana se encerre da melhor maneira possível, ela está à espera de um convite para os Jogos Rio-2016, o qual está pleiteando junto à Federação Internacional de Remo (FISA) e ao Comitê Olímpico Internacional (COI). O outro beneficiado seria Steve Hiestand, que pleiteia vaga no single skiff masculino:

- É uma situação bem difícil, porque as meninas do peso-leve conseguiram conquistar a medalha de ouro no pré-olímpico (Vanessa Cozzi e Fernanda Nunes venceram o double skiff peso-leve). Porém, foi pleiteado junto à Federação Internacional e ao COI para que, como o Brasil é sede dos jogos, sejam abertas mais duas vagas, no single skiff masculino e feminino, para que os quatro barcos que se classificaram no pré-olímpico possam competir. Eram apenas duas vagas, então apenas dois barcos poderiam ir pelo pré-olímpico, um de cada gênero.

Questionada por nossa equipe, em entrevista realizada na Sede Náutica da Lagoa após uma de suas sessões de treino, sobre as razões que motivaram a decisão de encerrar a carreira, ela não hesitou ao elencá-los:

- É um conjunto de fatores. Eu já remo há 18 anos e é um esporte que exige muito. O treinamento diário é bem extenso, um volume muito grande. Além das viagens, ficar longe da família... Isto tudo pesou bastante na minha decisão. Realmente eu acho que já contribuí bastante para o esporte brasileiro, e para o clube também. Então depois deste ano eu quero descansar um pouco e curtir um pouco mais a vida.

No final de março, foram disputados no Chile o Pré-Olímpico e o Campeonato Sul-Americano. Além da prata no single skiff pesado (não há nas Olimpíadas o skiff peso-leve, prova na qual ela tem os melhores resultados de sua carreira, como o ouro no Campeonato Mundial, em 2011, e em Copa do Mundo, em 2015, ambas em Bled, na Eslovênia), que contou como ouro no Sul-Americano devido ao fato de a vencedora ser uma remadora de Bermudas naturalizada norte-americana (Michelle Parson), Beltrame ainda ganhou em sua última partipação no Sul-Americano o bronze no four skiff e no double skiff. A atleta ficou satisfeita com o seu desempenho:

- Eu acho que me superei no single skiff. Havia competido na eliminatória e não tinha passado. Fui para a repescagem, que foi à tarde no mesmo dia. Consegui me classificar. Na semifinal já fui um pouco melhor. E eu também peguei um resfriado lá, o que me deixou um pouco debilitada. Na final, como eu já estava me sentindo um pouco melhor, consegui dar o meu máximo e quase ganhei a prova. Estava liderando a maior parte, mas realmente a remadora de Bermudas, que é naturalizada americana, ganhou no final. Mas achei um bom resultado, pois eu fui melhorando a cada competição. Acho que me superei. Na final eu fiz um bom tempo e fiquei contente com o resultado.

Na competição internacional disputada no Chile, Beltrame pôde constatar a defasagem do remo brasileiro até mesmo em relação a rivais do mesmo continente. Ela mostrou muita tristeza ao comentar o momento do esporte no Brasil:

- Estamos numa fase, eu diria, em que o remo do Brasil está bem fraco. Pudemos ver isso no Sul-Americano. No pré-olímpico tivemos alguns bons resultados, com as quatro medalhas, mas no Sul-Americano os resultados foram bem ruins. Estamos renovando os remadores, mas ainda está bem aquém do que poderia ser. E ainda há a questão do material da Confederação Brasileira estar velho, os barcos estão bem velhos. E me entristeceu muito ver que países como o Peru, Argentina e Venezuela estavam todos com barcos novos, e nós competindo com barcos velhos. Então nisto nós já saímos atrás.

Este quadro é ainda mais acentuado por divergências políticas como a envolvendo a CBR e a Federação do Rio de Janeiro, que culminou no boicote dos clubes do estado, que possuem os melhores remadores do país, ao Campeonato Brasileiro de 2015. Este problema ainda parece estar longe de ser resolvido. Diante deste quadro, Fabiana disse ponderar a possibilidade de participar politicamente para alavancar o esporte, até como forma de gratidão:

- É difícil (uma resolução), é sempre uma guerra muito grande, não conseguem se entender muito. Quem perde são os atletas de uma forma geral e o remo brasileiro, que fica cada vez mais dividido. É uma pena. Talvez participe da política do esporte após encerrar a carreira. Ainda não sei ao certo, mas com certeza vou querer ajudar de alguma forma com toda a experiência que eu adquiri, com todas as competições internacionais que disputei. É o meu papel. O remo me deu tanta coisa... Agora eu tenho que devolver também um pouco.

Devido a uma infecção causada pelo Zika Vírus, Fabiana ficou de fora da primeira regata do Campeonato Estadual, disputada no dia 17 de abril e na qual correria o single skiff pesado. O impacto para o Vasco não foi tão grande. Apesar de não alcançar a dobradinha, que tiraria mais pontos de seus rivais, o clube venceu a prova com Yanka Britto, que vem em ótimo momento. No começo de abril, Fabiana ajudou o clube a conquista a Regata de Velocidade da FRERJ. A crescente do remo do clube desde o ano passado, quando voltou a ganhar uma regata do Estadual após seis anos, tem tudo para ser potencializada a partir de agora, com a verba que o clube auferiu junto à Confederação Brasileira de Clubes Formadores (CBCf) para renovar a sua flotilha, um dos principais problemas dos últimos anos. Na primeira regata do Estadual, o Vasco ficou em segundo lugar e está a trinta pontos do Botafogo na classificação do Campeonato (131 a 101, contra 71 do Flamengo, em terceiro lugar). Como as provas de categorias internacionais têm pontuação dobrada, a diferença pode ser tirada nas três regatas restantes, que serão disputadas a partir de outubro. Fabiana falou brevemente também sobre o momento do Vasco, clube para o qual retornou em fevereiro do ano passado, no remo:

- Sem dúvidas eu acho que o Vasco vai disputar o título Estadual. O clube vem numa crescente. Ficou uns quatro ou cinco anos bem aquém do que o Vasco sempre foi, sempre ganhando os títulos cariocas e brasileiros. No ano passado conseguiu voltar a ganhar uma regata, chegou perto dos outros clubes, como há muitos anos não acontecia. Acho que neste ano a gente tem tudo para ganhar esse título - encerrou.




Fonte: Polidesporto Vascaíno - Sempre Vasco