Artilheiro no Catar, Muriqui relembra parceria com Romário no Vasco

Quinta-feira, 29/10/2015 - 03:31
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O atacante, ídolo do Guangzhou Evergrande, falou com exclusividade sobre a nova fase na carreira e exaltou o meia espanhol: "é espetacular"

Ele vestiu as camisas de gigantes como Vasco e Atlético-MG, dentre outras equipes do futebol nacional. Tal qual o navegador que dá nome ao time de São Januário, desbravou um território pouco conhecido pelos seus conterrâneos, deixou seu nome na história e cantou de Galo vestindo a camisa do Guangzhou Evergrande, da segunda divisão até o título da Liga dos Campeões da Ásia: trata-se de Luiz Guilherme da Conceição Silva, o Muriqui.

Após brilhar no futebol chinês, levantando um total de cinco troféus e recebendo o prêmio individual de melhor jogador da Liga dos Campeões da Ásia em 2013, o atacante agora veste a camisa do Al-Sadd. No clube do Qatar, já fez gols decisivos e atualmente atua ao lado do craque espanhol Xavi, um dos maiores ídolos da história do Barcelona. Em entrevista exclusiva realizada por telefone, Muriqui falou sobre a história que vem construindo longe do Brasil, mas revelou o planejamento de retornar para casa daqui alguns anos.

Além disso, o ídolo do Guangzhou e autor de 78 gols em 134 partidas com o time chinês comentou sobre a decisão do principal torneio de clubes asiáticos, que tem mais uma vez a sua ex-equipe como finalista. Privilegiado por ter jogado ao lado de atletas de peso no cenário mundial, Muriqui vibra com o excelente início de temporada no país-sede da Copa do Mundo de 2022, dá a sua opinião sobre o torneio e garante: jogar no calor qatari é pior do que no sol escaldante de Madureira. Abaixo, confira o bate-papo!

Você teve passagens por grandes clubes do Brasil, como Vasco e Atlético-MG, mas não construiu uma carreira duradoura neles. O que o Guangzhou teve de diferente?

“No Atlético Mineiro eu fiquei seis meses, e depois eu fui vendido para o Guangzhou. Os meus direitos pertenciam a um grupo de investidores e eles tinham o interesse em recuperar o investimento que havia sido feito em mim. No Vasco foi um ano e meio, mas eu joguei pouco devido a algumas lesões e isso atrapalhou minha sequência. Faz parte. No Guangzhou foram quatro anos jogando sempre, e lá eu alcancei o auge da minha carreira”.

No passado, você chegou a recusar uma proposta do Sporting Clube de Portugal para defender o Atlético. Se hoje chega uma oferta da Europa e outra do Brasil, qual você escolheria?

“Estou há seis anos longe do Brasil, a tendência seria voltar, pelo lado profissional. Mas, falando pelo lado pessoal é um pouco mais complicado. O Brasil vive um momento bem difícil. Eu tenho acompanhado pela internet as notícias e não acho que seja favorável, mas eu tenho vontade. Já tenho planejado algumas coisas para voltar ao Brasil não agora, mas em dois ou três anos. Se tivesse que escolher hoje pesaria muito o lado pessoal, pelo fato de o meu filho ter começado a estudar, minha esposa gostar de morar fora... enfim, essa questão pesa muito”.

Você chegou ao Guangzhou em 2010, ajudou o clube em título de segunda divisão até o título da Champions League Asiática. Você se considera o maior ídolo da história do clube?

“É difícil falar se eu sou o maior jogador da história do Guangzhou. Pelos números, eu acho que estou entre os primeiros.

Essa trajetória minha pode pesar um pouco, também tenho títulos individuais que nenhum outro jogador conquistou lá. Eu não gosto muito de falar, prefiro deixar que as pessoas de lá façam isso. Mas eu tenho certeza que fiz um grande trabalho e deixei um legado”.

Quais foram as principais mudanças que você sentiu no início e, depois, no fim da sua passagem pela China?

“A evolução foi na parte técnica do futebol chinês. Quando eu cheguei o nível era bem abaixo, mas ao longo dos anos melhorou muito, porque eles investem bastante: tanto no salário quanto na opção de compra, e na hora de fazer um contrato eles pensam a longo prazo. Isso ajuda dentro de campo e também na estrutura da equipe. Quando eu cheguei nós fomos campeões da primeira divisão com quatro ou cinco rodadas de antecedência. Hoje, se você olhar a tabela, falta uma rodada e o campeão não está definido. Já é outro campeonato”.

Como foi trabalhar com Marcello Lippi, e o que de mais importante ele te ensinou em relação à maneira de jogar futebol?

“Ele era um cara que gostava de tudo muito perfeito, muito certo. Ganhou Copa do Mundo, UEFA Champions League, e a importância que ele dava para a Champions da Ásia e Campeonato Chinês era bacana. Sem contar a parte tática, né? Ele trabalhava muito para corrigir as falhas do time. Ele trabalhava muito por setor, trabalho tático, para dar um padrão à equipe”.

É o melhor com quem você jogou?

“Ele é muito habilidoso, mas eu também joguei com o Romário, quando estava no Vasco. Ele também estava mais velho, mas fazia muitos gols. Lógico que são posições diferentes, o Romário sempre vai fazer mais gols do que o Xavi, que é meio-campista, mas o Romário ganhou uma Copa do Mundo praticamente sozinho, em 1994”.

Você tem feito um início de temporada espetacular (6 gols em 6 jogos). Tem alguma meta de gols? Como é a sua comunicação com os outros jogadores?

"Tenho a meta de fazer 30 gols na temporada. A comunicação aqui é muito mais complicada fora de campo, porque aqui o idioma falado é o árabe e também falam muito inglês, mas dentro de campo não tem muito disso, dá para se entender muito bem na linguagem do futebol. A linguagem do futebol é universal".

A escolha do Qatar para a Copa do Mundo de 2022 é muito criticada pela temperatura e pelo tratamento dado aos empregados que participam das construções dos estádios. Como você essas duas questões sendo noticiadas aí?

“A questão da temperatura é real, mas acho que pode ser resolvida porque aqui você pode jogar com ar-condicionado. O meu time é o único que joga em estádio com ar condicionado, e realmente dá muito mais fôlego. A gente repara nisso porque treinamos sem o ar condicionado.

Sobre essa questão do abuso nos trabalhadores, eu li a matéria, mas não posso falar sobre porque eu não vejo de perto a realidade deles. O que eu sei é que contratam muitos indianos, paquistaneses e pessoas de outros países porque a mão de obra é mais barata, mas é tudo o que eu sei”.

O calor chega a ser comparável ao de, por exemplo, um jogo em Madureira, pelo Campeonato Carioca?

“Não chega nem um pouco perto. Aqui é muito mais quente, principalmente na época do Ramadan".

Acredita que o Qatar pode fazer um bom papel na Copa?

"É muito difícil, porque em uma Copa do Mundo quem joga são as melhores seleções, com os melhores jogadores. Eu posso até queimar a língua, mas não acredito muito que os qatari consigam fazer algo de muito grandioso".



Fonte: Goal.com