América aposta nos ex-vascaínos Wagner Diniz, Fábio Braz, Abedi e Jean para voltar à elite do Estadual

Sábado, 14/03/2015 - 00:33
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Fábio Braz rouba a bola na defesa, e Wagner Diniz inicia o contra-ataque. Abedi tabela com Jean, que cruza na área para Somália, de cabeça, estufar a rede. Um gol que poderia ser de qualquer Primeira Divisão de estadual do Brasil, mas tem tudo para acontecer na Série B do Rio de Janeiro. E pelo América. O segundo time de todos os cariocas apostou no quinteto de medalhões – que acumula ao todo 13 anos e sete meses de experiência pelos quatro grandes do estado – para retornar à elite após três anos na Segundona. O primeiro passo da caminhada rumo ao sonhado acesso será dado neste sábado, fora de casa: contra o Audax, às 15h30 (de Brasília), em Moça Bonita.

Desde que foi rebaixado em 2011 como o lanterna do campeonato – a segunda queda em sua história, três anos depois da primeira (2008) –, o Mecão tropeçou nas tentativas de se reerguer. Na temporada seguinte, sequer passou da primeira fase. Em 2013 bateu na trave: classificou-se para o triangular final, mas terminou com um ponto a menos que Cabofriense e Bonsucesso, dupla que subiu para a Primeira Divisão. E no ano passado chegou a ser semifinalista da Taça Santos Dumont, o primeiro turno da Série B, mas foi eliminado ao perder em casa para o Olaria. Para 2015, a reformulação no elenco foi grande: 17 reforços foram contratados e só nove permaneceram. Além dos medalhões, o plantel conta ainda com outro nome conhecido nacionalmente: Fábio Saci, ex-Vitória, Bahia, Santa Cruz e Náutico.

O responsável por dar liga ao elenco é Arturzinho, ex-jogador e treinador do Fluminense que volta a trabalhar no Rio depois de 10 anos. Mesmo com muitos trintões no elenco, o técnico alega que a idade avançada não vai ser problema para escalar todos os experientes no time, mas só três do quinteto devem começar a competição entre os titulares: Fábio Braz, Wagner Diniz e Somália. Jean está no departamento médico, e Abedi, um dos últimos a chegar, ainda busca seu espaço. A provável formação para a estreia tem Felipe, Muniz, Fábio Braz, Vagner Eugênio e Enric; Taércio, Darlan, Wagner Diniz e Léo Rocha; Fábio Saci e Somália. A pré-temporada americana contou com 11 vitórias em 14 partidas preparatórias, entre amistosos e jogos-treino – incluindo um 2 a 2 com o Shandong Luneng, equipe chinesa comandada por Cuca e que, em janeiro, venceu o Botafogo no Estádio Nilton Santos.

– Fizemos coisas atípicas aqui, contratamos muitos jogadores experientes, acima dos 30 anos, e fizemos avaliações que resultaram na chegada de 10, 12 jogadores. Alguns das categorias de base e outros já profissionais, mas de equipes menores. Com essa mescla, esperamos produzir resultado dentro de campo. O que eu digo é que se forma elenco. Ninguém é titular absoluto e ninguém ganha campeonato com 11 jogadores. Se não houver vaidade, egoísmo, a tendência é que esse grupo fique forte. Cada um vai ter sua oportunidade – garantiu o comandante.

Internamente, o presidente Léo Almada é apontado como um dos principais responsáveis pela volta da credibilidade ao América – ele assumiu o cargo no lugar de Romário, que iria ser empossado, mas desistiu devido à vida política como senador. Sócio do clube desde 1947, o advogado de 77 anos foi escolhido pelo Conselho Deliberativo para ocupar a função e mostrou-se confiante no acesso com o plantel formado. Ele assegura que os medalhões não oneraram a folha salarial, mas prefere não revelar números.

– Fizemos um bom time baseado em jogadores que se encontravam desempregados e sem empresário. Dando emprego a atletas sem que empresários se intrometam. Experimentamos 150 jogadores, conseguimos fazer um senhor time dentro das nossas possibilidades. Os jogadores mais reconhecidos naturalmente ganham um pouco mais, mas todos estão dentro de nosso limite financeira.

Pagar os salários e fazer do América um clube novamente competitivo a nível nacional passa pelo projeto de sócio-torcedor. Assim como os grandes clubes do país, o Mecão também busca empreender com sua torcida: lançou na primeira semana de março três planos de associação, dois no valor de R$ 19,90 e um de R$ 69,90. A diretoria informou que até o momento já foram registrados 200 novos sócios, até de diferentes estados, e que a expectativa do primeiro mês é chegar a mil inscritos.

ENTROSADOS, MEDALHÕES ADIAM A APOSENTADORIA

Somália, ex-Fluminense, está com 37 anos. Fábio Braz e Wagner Diniz, ex-Vasco, têm 36 e 31, respectivamente. Abedi, ex-Botafogo e Vasco, já fez 35 aniversários. E Jean, ex-Flamengo, Fluminense e Vasco, completou 33 no último dia 3 de março. Todos têm contrato só até o meio da temporada. E nenhum, ao menos por enquanto, pensa em aposentadoria. Trintões, eles garantem ter fôlego para levar o América à Primeira Divisão.

Veterano entre os veteranos do quinteto, Somália vai disputar pelo quinto ano consecutivo o Campeonato Carioca, só que agora será sua primeira vez na Série B. O centroavante disse que recebeu outras propostas mais vantajosas financeiramente, mas considerou a credibilidade da oferta do América mais confiável. Motivado com a reestruturação do clube, ele planeja voltar a ser artilheiro estadual, feito que já conseguiu em São Paulo (pelo São Caetano em 2007, com 13 gols) e no Rio (pelo Boavista em 2012, com 12 gols, ao lado do então vascaíno Alecsandro).

– Costumo brincar que, quando começa a passar vergonha, é o momento de o jogador pendurar as chuteiras. E passar vergonha na minha função é não fazer os gols devidos, ver que estão te atropelando dentro de campo. Aí entra a importância de ser atleta. A maioria dos jogadores mais experientes ainda está dando conta do recado. Nos times em que passei fui muito bem e espero ajudar. Se eu fizer os gols, o time estará bem servido. Gol de Somália e alegria da torcida.

Somália reencontrou no América um velho conhecido: Jean. Os dois foram as únicas contratações do Fluminense para a disputa do Campeonato Brasileiro de 2007 e atuaram algumas vezes juntos. O atacante está de volta ao América após defender o clube na Copa Rio de 2011 e na Série B do Carioca de 2012, quando disputou 25 partidas e fez sete gols. Enquanto trata um problema na coxa sofrido durante a pré-temporada, ele diz estar recuperado de vez das lesões no joelho que o perseguiram ano passado no Macaé. Assim, planeja reviver aquela dupla de ataque do Tricolor no Mecão.

– Chegamos juntos ao Fluminense, fizemos uma boa dupla, apesar da diferença de tamanho, porque ele é muito maior do que eu (risos). Mas tivemos entrosamento, e o Somália é meu amigo particular, quem sabe podemos ajudar a conseguir acesso. Vai depender do treinador. Ele sabe o melhor para a equipe. Mas estou à disposição e vou brigar pelo meu espaço. Tem companheiros treinando há mais tempo, mais bem preparados do que eu, mas vou esperar o momento certo de entrar e agarrar a oportunidade. Enquanto tiver saúde, força, parte física para suportar os jogos, vou dar meu máximo e tentar. Quando não der mais, encerro (a carreira) – afirmou.

Quem também jogou com Jean, só que no Vasco, foram Fábio Braz, Wagner Diniz e Abedi em 2006. O zagueiro é outro que retornou ao América após disputar a Primeira Divisão do Rio há cinco anos. O meia, por sua vez, é o único dos cinco que tem experiência na Série B carioca: foi campeão em 2013 com a Cabofriense, justamente quando o Mecão bateu na trave para subir. Para o lateral, que agora virou meio-campo a pedido de Arturzinho, reencontrar esses companheiros foi um dos motivos que o fizeram aceitar a proposta do clube. E espera resgatar o antigo entrosamento entre eles.

– Isso pesou, o fato de esses grandes jogadores estarem aqui fazendo parte do projeto. Espero fazer o máximo possível para voltar àquela fase boa do Vasco e fazer bons jogos. Todo mundo vê o Campeonato Carioca, pode ser Série A ou B. E todo mundo quer voltar a atuar num clube grande, e o América pode ser o degrau. Não quero parar tão cedo. Onde tiver lenha para queimar, vou queimando e metendo bronca – explicou o jogador, que retorna ao Rio seis anos depois com novo visual. – Ano passado fui inventar de passar a (máquina) zero, aí não crescia mais, tinha entrada aqui (apontando para a testa). Achei melhor deixar a barba para tirar o foco daqui de cima (risos).

LEMBRA DELE? A VOLTA DE LÉO ROCHA: "SEM CAVADINHA"

Quem também está no elenco é Léo Rocha. Lembra dele? O nome do meia pode não ser tão famoso como dos medalhões, mas ele ficou nacionalmente conhecido em 2012. Só que negativamente. Tudo por conta de uma cavadinha num pênalti perdido que custou a eliminação do Treze-PB na Copa do Brasil, diante do Botafogo no Engenhão (relembre o lance no vídeo abaixo). O jogador foi demitido ainda no vestiário e, mais tarde, se aposentou com apenas 28 anos.

Desde então, Léo vinha participando apenas de campeonatos amadores em Valão do Barro, distrito de São Sebastião do Alto (RJ), onde mora com a família. Rotina que mudou a partir de um pedido especial, feito pelo técnico que o promoveu aos profissionais do Olaria, no início de sua carreira. Aos 30 anos, ele cancelou a aposentadoria e corre para recuperar sua melhor forma.

– Foi pelo Arturzinho, que me lançou. Ele fez um amistoso em Cordeiro, perto da minha cidade. Joguei pelo time de lá, ele gostou e fez o convite para eu vir treinar, ver a forma física e ajudar o grupo que ele estava montando. Aí resolvi retornar à ativa e estou treinando para tentar ajudar o América a subir esse ano. Fiquei quase dois anos sem jogar. Estamos realizando amistosos, mas para dar ritmo mesmo só valendo três pontos. O condicionamento físico está sendo bem feito, e acho que consigo jogar os 90 minutos – analisou o atleta, que também tem contrato só até o meio da temporada e pretende seguir mais alguns anos no futebol.

O meia surpreendeu com boas atuações, foi o principal jogador da pré-temporada ao lado de Somália e Wagner Diniz e virou titular absoluto do América de Arturzinho. Ele alega que o período em família foi fundamental para esfriar a cabeça a respeito do que chama de "injustiças do futebol" e garante estar preparado para encarar esse tipo de situação novamente. Até mesmo para bater futuros pênaltis.

– Bato, se tiver eu pego. Mas sem cavadinha agora (risos).

Só elogios a Léo, Arturzinho não recrimina a cavadinha desperdiçada em 2012. O técnico americano considera a atitude do jogador como demonstração de forte personalidade, aposta no sucesso do meia na Série B do Rio e deixa aberta a possibilidade de ele voltar à marca da cal.

– Tem essa possibilidade. Por enquanto é o Somália, mas se tiver oportunidade de bater... Ele demonstrou personalidade. As pessoas reclamam, acham que foi irresponsabilidade. Ele tem personalidade forte, é esse tipo de jogador que queremos ver no futebol. Espero que ele tenha esse tipo de atitude não só nos pênaltis, mas também atuando nas partidas.

NA TORCIDA, ROMÁRIO TEM PROJETO PARA PRESIDENTE 2018

Principal nome da chapa eleita no América em 2014, Romário pode não ter assumido a presidência, mas segue acompanhando o clube de perto e mantendo contato com a diretoria. Recentemente até pediu ao atual mandatário uma bandeira do Mecão para colocar em seu gabinete no Senado Federal, em Brasília. Segundo Léo Almada, o Baixinho será o próximo a comandar o Mecão.

– Assumi um mandato tampão para 2014, e o Romário iria me suceder. Mas ele pediu: "Continua na presidência que eu venho depois do seu mandato de três anos." o Romário virá no fim de 2017 ou início de 2018. Temos tido contatos permanentes, e ele está sempre solícito – explicou o presidente.

Foi com Romário no comando do futebol que o América teve seus melhores resultados nos últimos anos: o título da Segunda Divisão carioca em 2009, quando ele próprio entrou em campo em dois jogos, e a classificação para a Série D do Brasileirão. Na época, ele conseguiu levar para o clube jogadores e patrocínios, como da Unimed.

Fábio Braz morou com Romário em Brasília entre 2012 e 2014, quando defendeu o Brasiliense, é amigo particular do Baixinho e muito próximo da família do ex-atacante – chegou até mesmo a ser confundido como segurança do Romarinho, filho do senador, por causa de uma foto nas redes sociais. O zagueiro confirmou a proximidade do político com o dia a dia do clube, revelando também que ele deve estar na arquibancada do estádio Édson Passos no primeiro jogo em casa do Mecão no Carioca: na próxima quarta-feira, às 20h, contra o São João da Barra, pela segunda rodada.

– Ele não assumiu o cargo de presidente por motivos pessoais, mas está sempre por dentro, sabe o que acontece. Ele vinha me deixando informado e ajudou bastante a aceitar o convite. Morei com ele um bom tempo. Estou sempre com ele, que sempre fala do trabalho, pergunta como está, quem está... O primeiro jogo em casa ele deve comparecer. Sempre que estiver no Rio e puder, ele estará nos jogos – afirmou.

Medalhões nos 4 grandes:

Jean: 4 anos e 6 meses
. 2 anos e 10 meses no Flamengo
. 1 ano e 2 meses no Vasco
. 6 meses no Fluminense

Somália: 1 ano e 6 meses
. 1 ano e 6 meses no Fluminense

Abedi: 2 anos e 9 meses
. 2 anos e 3 meses no Vasco
. 6 meses no Botafogo

Wagner Diniz: 2 anos e 6 meses
. 2 anos e 6 meses no Vasco

Fábio Braz: 2 anos
. 2 anos no Vasco



Fonte: GloboEsporte.com