Vasco já teve um corvo como mascote; conheça a história

Quarta-feira, 23/04/2014 - 09:17
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Esta é uma das mais interessantes histórias da “história folclórica” vascaína. Foi contada por Alvaro  do Nascimento, pelo Nº 8ª da “Manchete Esportiva” que circulou com data de 14 de janeiro de 1956.

Relata o cara que o primeiro desenho de Otelo Caçador para o “Jornal dos Sports” trouxe uma caravela, com o “Almirante” comandando a sua patota em luta contra Popeye, Pato Donald, o Cartola e o Diabo Rubro, respectivamente, os símbolos de Flamengo, Botafogo, Fluminense e América, criados pelo desenhista argentino Lorenzo Molas, que já havia ido embora, abrindo vaga no emprego. Era uma tarde de 1947, ano em que o “Expresso da Vitória” não tinha adversários. Sem explicação, Otelo colocou no alto de um mastro um corvo assistindo à luta. Só disse aos seus indagadores que, em Portugal, o corvo era avisto com ave das sorte. E no Brasil também. Depois da publicação do desenho, o Vasco atropelou quem pintou pela frente. Foi o bastante para a avezinha será entronizada. Virou sua Majestade Don Corvo I e Único, mantenedor da Ordem do Corvo, nos graus de comendador, barão, visconde e duque. Mais? Alvaro Nascimento, que tinha o apelido de “Cascadura”, foi intimado a importar, das terras lusitanas, um representante da espécie, inexistente por aqui. Mas o pior era que Portugal não permitia a sua saída.

Rolo aviário criado na Colina, surgiram na história o jornalista Silva do Mar, que apresentou a “Cascadura” o prestigioso representante da empresa “Livros Portugal”, o gajo Antônio Pedro, que conseguiu, por intermédio do presidente der uma empresa armadora portuguesa, o embarque de um autêntico corvo vicentino. O dito cujo, no entanto, levou dois meses para atravessar o Atlântico e pousar na Colina. Deveria desembarcar na Cidade Maravilhosa no dia 8 de novembro daquele glorioso 1947, véspera do embate contra o Olaria, valendo pelo segundo turno do Campeonato Carioca.

E o momento não poderia ser melhor, para a apresentação de um mascote importado. Afinal, o treinado Flávio Costa “estava uma arara” com o Olaria, único a atrapalhar a rota do ”Expresso” durante o turno inicial da temporada estadual, segurando 3 x 3, em São Januário. Os demais haviam sido demolidos, sem muitos problemas, inclusive, com um castigo imposto ao Canto do Rio, por 14 x 1 – maior goleada da competição até este 2014.

GOLPE NA GALERA - Desembarque anunciado e presença confirmada à pugna, o corvo vicentino, no entanto, não deu as caras. Como explicar isso ao povão? Muito báim! Já que o povo é, apenas, um detalhe (diria, 40 décadas depois, uma ministra da Fazenda do governo do flamenguista Fernando Collor), picaretagem nele. Silva do Mar e seu amigo Cardoso Gramofone arrumaram um pombo preto, deram-lhe o devido tratamento nos pés, o colocaram dentro de uma gaiola, sobre o capô de um carro, e “vamo que vamo” pra Rua Bariri. Para a galera vascaína, tudo fora festa. Além do mais, com Friaça e Ismael balançando a roseira ( 2 x 0), quem quereria saber se o “rei” era falso, ou não?

O corvo vicentino, finalmente, chegou ao Rio de Janeiro. E rolou mais festa. Recebido por um tremendo cortejo musicado a clarins, rumou para as Rádios Mayrink Veiga e Clube do Brasil. Esta fez até programa em sua homenagem. Depois, seguiu para mais festejos na redação do “Jornal dos Sports”. E, por fim, para o número 144 da Avenida Mem de Sá, onde recebeu gente “in” do glorioso Club de Regatas Vasco da Gama e do desporto nacional.

Don Corvo I e Único, no entanto não viera para ajudar só a rapaziada do futebol, campeã carioca daquela temporada – 17 vitórias e três empates –, goleando, também, os grandes rivais Flamengo e Fluminense, respectivamente, apor 5 x 2 e 5 x 3. Na decisão do campeonato de remo, lá estava ele, vendo os meninos carregarem o caneco, da Lagoa Rodrigo de Freitas, para a Colina. Foi até brincado, com uma taça de champanhe, por Ary Barroso, o autor da mais linda melodia (Aquarela do Brasil) da musica popular destes rincões.

No entanto, as glórias do “Rei Corvo” passaram a incomodar o presidente vascaíno Antônio Rodrigues Tavares. O cartola chegou a distribuir nota oficial, afirmando que as vitórias cruzmaltinas nos gamados eram méritos dos atletas e do treinador Flávio Costa.

A torcida não lhe deu a menor bola. Depois do último jogo da disputa de 1947, com 2 x 1 pra cima do Madureira, em 28 de dezembro, a moçada preparou um cortejo, com 12 carros alegóricos, e cerca de mil automóveis. Partiu com o corvo da a Rua Conselheiro Galvão, promovendo a maior manifestação popular dão conhecimento do povo. Até aquela, nenhum homem público havia merecido tal consideração na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.



Fonte: Kike da Bola