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NETVASCO - 24/08/2009 - SEG - 05:34 - Karatê: Aos 43 anos, Ciça continua competindo em alto nível

Tricampeã mundial de caratê, Ciça Maia desafia os limites da ciência e do tempo ao competir em alto nível aos 43 anos. Assim como a nadadora americana Dara Torres, 42 anos, que ganhou 12 medalhas em cinco Olimpíadas, Ciça contraria a lógica ao ter um desempenho cada vez melhor, à medida que envelhece. Para decifrar o maior fenômeno do tatame brasileiro, a carateca será alvo de estudos do Centro de Excelência Esportiva (Cenesp), um programa do Ministério do Esporte que pesquisa atletas de alta performance.

Os primeiros testes começam em outubro, na Escola de Educação Física do Exército, coligada à rede Cenesp.

– Ela é fora de série. Enquanto a maioria dos atletas de lutas se aposenta aos 35 anos, ela com 43 é campeã brasileira e mundial – avalia Manuel Varella, seu treinador há 12 anos. – Pelo que sei, a Ciça é hoje a atleta mais a velha a competir em alto nível.

Nada mal para quem começou a aprender os segredos do esporte aos 21 anos e mesmo depois dos 40 continua esbanjando boa forma com 58kg bem distribuídos em 1,56m. Mesmo tendo pisado um tatame muito mais tarde, a paixão pelo esporte começou cedo. Ciça viu pela TV o maior lutador de artes marciais de todos os tempos, o mestre Bruce Lee.

– Eu era uma menina quando vi uma moça que lutava bem no filme Punhos de aço contra o Bruce Lee. Cresci querendo ser um dia como ela.

Quando ela cresceu, o sonho virou realidade. Quando Ciça começou a lutar, não imaginava que ganharia tantos títulos, muito menos que seria no futuro uma referência de uma geração. Mas, depois de conquistar um tricampeonato mundial (92, 98, 2008), dois vice-campeonatos mundiais (90 e 91), 12 títulos brasileiros, cinco sul-americanos, quatro pan-americano e 12 estaduais, Ciça se tornou uma lenda viva. Uma de suas façanhas foi parar até no Guiness book.

Em 1992, ela foi a primeira latino-americana a desbancar uma japonesa na final do Mundial na terra do caratê.

– Meu sonho era vencer as japonesas. Nas primeiras vezes apanhei muito mas prometi que um dia ia vencê-las e consegui.

Para bater adversárias muito forte e bem mais altas do que ela, Ciça criou um estilo que revolucionou o esporte.

– As pessoas só lutavam em linha, ou para frente ou para trás.

Eu passei a usar os lados com muita ginga, o que deixava as adversárias perdidas. O estilo mudou a plasticidade da luta na década de 80 – garante.

Infância dramática Mas suas conquistas se tornam ainda mais valiosas quando suas origens são reveladas. A superatleta de hoje nem lembra de longe a menina frágil que foi obrigada a crescer longe da mãe, passou por orfanatos, trabalhou em casa de família, até encontrar no caratê o seu norte.

Ciça conta que cresceu com os setes irmãos e a mãe em um cômodo perto da Rua Riachuelo, no Centro. Não conheceu o pai e ainda foi obrigada a se separar dos irmãos e da mãe quando tinha 7 anos, depois que foram despejados do cortiço em que moravam. Nesse período passou por orfanatos, morou na casa de duas famílias até atingir a maioridade. Depois trabalhou como babá, em casas de família, para sobreviver. Fadada ao fracasso, desde criança, Ciça desafiou o destino ao descobrir o seu incrível dom para o caratê.

– É como se a vida tivesse me dito “não”. Você não tem família, não tem casa, não tem ninguém.

Você não tem a menor possibilidade de chegar a lugar nenhum.

Mas eu ousei crer num Deus e no dom da vida. Acreditei em mim, tive fé e isso fez a diferença.

Hoje, quando olha para trás, Ciça se dá conta que pode ajudar muita gente.

– Quero ajudar as crianças que vivem uma história parecida com a minha. Creio que existem outras Ciças espalhadas por este Brasil e se elas tiverem oportunidade podem ir muito mais longe do que eu – aposta.

Enquanto a aposentadoria não vem, a lutadora treina para o Campeonato Brasileiro, que será disputado em outubro, na cidade de Natal. Depois do torneio vai decidir se irá disputar ou não o seu último mundial. Apesar de não se ver fora dos tatames, Ciça tem ainda dois sonhos a realizar.

– Quero terminar a faculdade de psicologia e ajudar outros atletas.

Quando questionada sobre o segundo sonho, ela ficou alguns segundos em silêncio e disse com os olhos marejados.

– O maior sonho da minha vida é comprar uma casa para minha mãe – disse, segurando as lágrimas. – Eu cresci ouvindo a minha mãe dizendo: “Um dia a gente vai ter uma casa”. Hoje ela mora em um quarto em Nilópolis com minha irmã. Não vou sossegar enquanto não entregar a chave da casa para ela.

Em 17 anos de carreira, Ciça só se machucou seriamente uma vez

Qual é o segredo de uma atleta que teve uma infância e adolescência dramáticas, iniciou-se no esporte somente aos 21 anos e que, aos 43, ostenta o título de tricampeã mundial? Para Turíbio Leite, um dos maiores especialistas brasileiros em fisiologia do exercício, três fatores contribuem para a longevidade dela no esporte: a falta de lesões, o lado psicológico e a herança genética.

– É raro o atleta que não carregue o peso de uma lesão que tenha deixado alguma sequela – ressalta. – Quando isso acontece a tendência é que o atleta prolongue a carreira, porque o corpo estará apto a competir em alto nível.

Outro ponto que ajuda muito a longevidade de uma carreira esportiva é a cabeça.

– Se o atleta consegue administrar a vida pessoal com a profissional e mantém a rotina de treinos de forma competitiva, ele prolonga a sua carreira – garante Turíbio, que elege a genética como terceiro fator preponderante.

– É o perfil genético que está por trás de tudo isso.

As explicações do especialista se encaixam com perfeição na trajetória da carateca. Em 17 anos de carreira, Ciça ficou apenas três meses longe do tatame por conta de uma torção no joelho. Além disso, ela quebrou o nariz em um treino. Uma raridade na vida de um atleta.

Mas, para o capitão Pedro Ivo, um dos seus preparadores físicos da Escola do Exército, a cabeça da atleta é seu maior diferencial.

– Além de os golpes dela serem perfeitos e de sua excelência física, a cabeça da Ciça é incrível – ressalta Pedro. – Ela não pensa com uma atleta de 43 anos, mas como alguém que está começando a carreira.

Fonte: Jornal do Brasil Nota da NETVASCO: Ciça foi atleta do Vasco por cerca de 10 anos, entre 1999 e 2009.

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