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NETVASCO - 16/08/2009 - DOM - 03:28 - Andrada fala sobre passagem pelo Vasco e milésimo gol de Pelé

Não é difícil perceber que Edgardo Andrada não é uma pessoa extrovertida, de sorriso fácil e brincadeiras gratuitas. Mas este senhor de 70 anos, baixo para os padrões atuais de um goleiro, que conserva o caminhar firme, está longe de ser um homem amargurado. Ao menos, hoje é assim.

Viagens ao Rio de Janeiro, como a que fez na última semana, às vésperas do 40º aniversário do milésimo gol de Pelé, sofrido por ele no gol vascaíno, deixaram de evocar lembranças indesejáveis.

O que antes era uma tortura, hoje é visto com doçura.

Ao ouvir um “tudo bem”, pretexto para iniciar uma conversa, ele dá o cartão de visitas de sua sinceridade desconcertante: “Fora os problemas, tudo bem”. Refere-se, logo explica, ao problema que, segundo ele, deixou-lhe apenas 20% da visão no olho direito e que o impede de “jogar bola com os velhos, para depois comer um assado”. Mas logo aponta com o indicador para a cabeça: “Isso aqui está bem”. Aos 30 anos, o argentino de Rosário desembarcou no Rio em 1969 para defender o Vasco. Encantou-se por Copacabana, onde teve três endereços antes de se fixar no Leme.

Chegou numa época em que, no Brasil, enfrentar Pelé, Garrincha e outros monstros sagrados era frequente.

Até que, no dia 19 de novembro, mais do que o pesadelo de enfrentar o Rei, viu-se diante da assustadora possibilidade de entrar para a história como o goleiro que sofrera o milésimo gol. Vasco e Santos jogariam pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

— Goleiro não quer sofrer gol algum.

E eu não queria ser o goleiro do milésimo gol. Não me interessava entrar para a história assim. E achei que ia conseguir. Faltavam 11 minutos para acabar. Mas com Pelé não se podia. Ele cavou o pênalti. Nos 30 anos do gol, estive com Pelé e com o árbitro (Manoel Amaro de Lima) e repeti a ele que não tinha sido pênalti — recorda Andrada.

— Hoje entendo que isso não veio só para o mal. Se não fosse o gol, você não estaria me entrevistando.

Então, não foi de todo ruim.

Com todos os olhares do Maracanã voltados para a grande área e disposto a tentar o quase impossível, Andrada conta que criou sua estratégia: — Pelé fazia paradinha. Decidi que, se ele corresse, eu correria. Se ele parasse, ficaria parado diante dele e aí venceria quem tivesse mais reflexo. Acabei indo na bola, senti ela tocar nos meus dedos, mas estava molhada e escapou. Quicou e foi morrendo no fundo do gol. Eu me adiantei muito. Talvez, se tivesse pego, o juiz mandasse repetir.

A célebre imagem de Andrada socando o chão tem, segundo ele, duas explicações. A primeira, mais fácil de acreditar, o inconformismo por ter passado perto de evitar o gol. A segunda, ter sido pisado na mão por fotógrafos, câmeras e repórteres que invadiram o campo atrás de Pelé.

Do jogo, que terminou 2 a 1 para o Santos, Andrada lembra que Pelé exibiu boa parte de seu repertório. Suas lembranças do mito incluem xingamentos que, segundo o goleiro, Pelé usava para desconcentrá-lo. Algo que, pelo visto, não muda o respeito que o argentino tem pelo Rei. Numa época em que as estrelas povoavam os gramados do país, não só o futebol era mais solto. O hoje tão rígido e por vezes aborrecido código de ética entre jogadores obedecia outros padrões.

— No futebol, você pode xingar seu adversário e depois sair para jantar.

Isso não muda o respeito que as pessoas tinham umas pelas outras. E em campo não havia como parar Pelé, ele era capaz de tudo. No nosso encontro de 1999, ele disse que fariam um filme.

Ele merece um monte de filmes, para passar no Brasil todo, no mundo todo — afirma Andrada. — O que fazer quando tinha que enfrentar Pelé ou Garrincha? Eu ia à igreja na véspera.

Do Vasco, ele fala com carinho. Diz ter sido tão bem tratado no país que se naturalizou brasileiro, passando a ter dupla nacionalidade. Embora diga que, hoje, não sabe como o processo ficou.

— Sou mais brasileiro do que você.

Eu escolhi, você nasceu aqui — brinca.

— O Vasco foi minha segunda casa no futebol, depois do Rosário Central.

Pude mostrar que era possível jogar com idade avançada. Fiquei dos 30 até os 36 anos. Só fui parar com 43.

Andrada sente orgulho por ter deixado sua marca no Brasil num tempo em que exportação era exceção.

— Era um futebol com estrelas, todos queriam vencer. Um dia, você jogava contra Pelé. Depois, contra Garrincha, Carlos Alberto, Gérson. A prioridade não era chutar a bola para longe de sua área. Eu desfrutava o futebol, me divertia.

Hoje, a TV aproxima o futebol de outros países, as cifras são enormes, são até demais. Mas é um futebol comprado — define. — Os clubes da América do Sul, quando conseguem vender um bom jogador, se salvam. É cada dia mais difícil trazer bons jogadores para cá. Antes vinham procurar garotos de 21 anos. Hoje, é de 12 ou 13. Mas a paixão da torcida pelos clubes não muda. A torcida do Vasco vai sempre gritar pelo Vasco no estádio.

Em São Januário, Andrada foi Campeão Carioca em 1970 e Brasileiro em 1974. Este último motivou sua recente vinda ao Brasil, para ser homenageado pelo Vasco. E representou a maior alegria de uma passagem que, no início, ele temeu que fosse curta: — Soube que estava vendido num dia 8 de maio à noite. No dia 11, um dia das mães, estreei contra o Flamengo.

Perdemos de 3 a 0, fiz um pênalti e me machuquei. Em nove anos de carreira, nunca tinha me machucado.

Achei que me dariam um chute na bunda. Acabei tendo uma história bonita no Vasco. Todos me queriam muito bem. E me lembro muito da final de 1974, contra o Cruzeiro. Ganhamos de 2 a 1 num jogo em que os dois times atacavam o tempo todo.

Foi muito divertido jogar.

No Brasil, Andrada diz ter aprendido a sair do gol. A agilidade, diz ele, era sua forma de compensar a estatura de 1,78m e o fato de pesar 73kg.

Hoje, coordena as divisões de base do Rosário Central e, de certa forma, vive um dilema.

— A qualidade técnica é o fundamental.

É o que buscamos desde a criança. Mas o futebol está cada vez mais físico. Como explicar que equipes da África se equiparem a italianas, brasileiras, argentinas? Você dribla e te miram a cabeça — diz. — Entre um goleiro de 1,80m e outro de 1,87m, tendem a escolher o mais alto. Mas, se tiver técnica, dá quase no mesmo. O problema é que, se não tiver força e um mínimo de altura, vão golpeá-lo.

Na minha época, não tinha tanta lesão de ligamento cruzado.

Andrada se levanta e olha a paisagem de uma manhã de sol no Rio.

— E me pagavam para morar em Copacabana e jogar futebol.


Andrada não consegue evitar o milésimo gol de Pelé, em 1969


Andrada homenageado pelo Vasco nos 35 anos do Brasileiro de 1974


Pelé e Andrada no Maracanã em 1999, nos 30 anos do milésimo gol


Fonte: O Globo

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