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NETVASCO - 20/11/2007 - 09:41 - Confira reportagem do Lance sobre o Dia da Consciência Negra

Dia Nacional da Consciência Negra

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado todo dia 20 de novembro e tem como objetivo gerar uma reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A comemoração resgata a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra e líder do Quilombo dos Palmares, por volta de 1600.

A data é festejada desde a década de 1960, porém, somente recemente ela começou a ser motivo de feriado em diversos municípios. No Rio de Janeiro, por exemplo, a lei foi decretada em 1995, pelo deputado federal Edson Santos, estabelecida como a de número 2307/95 em 17 de abril.

A História

Com um time formado, em sua maioria, por operários, negros e mulatos, o até então modesto Clube de Regatas Vasco da Gama surpreendia nos campeonatos das divisões inferiores e rapidamente assegurava sua vaga na elite carioca. Logo no primeiro ano, em 1923, o clube sagrava-se campeão carioca. Preocupados, os clube da elite, na época, não demoraram a contruir um contra-ataque, que viria nos bastidores.

Em uma reunião formada, entre outros, por Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, que tinham jogadores arianos em suas equipes, foi decidido que deveriam excluir jogadores humildes, sob a alegação de que praticavam o profissionalismo. Dentre as imposições aos clubes pequenos estava a de que deveriam apresentar condições materiais e técnicas.

Após divergências, ficou decidido que os clubes grandes abandonariam a Liga Metropolitana, e posteriormente, criariam uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos. Com isso, a primeira cisão no futebol carioca estava decretada.

Depois de algumas equipes de pequeno porte aderirem ao novo formato, o Cruzmaltino, em um gesto heróico e histórico, decidiu enfrentar os chamados "grandes" e por meio de um ofício, enviado pelo presidente do clube na época, José Augusto Prestes, informou que não iria participar da Amea. Tal atitude foi capital para uma nova visão do futebol.

Já em 1925, os dirigentes da época revisaram seus conceitos e permitiram a inscrição de jogadores negros, mulatos e humildes. Uma nova fase era instaurada no esporte, e tal atitude racista ficaria para trás.

Depoimentos de Personalidades do Futebol

Alcir Portela

Não é um exagero afirma que Alcir Portela dedicou parte de sua vida ao Vasco. Terceiro jogador que mais vestiu a camisa cruzmaltina, e único a ter participado diretamente dos quatro campeonatos brasileiros conquistados pelo Gigante da Colina, o ex-volante não esconde seu orgulho em fazer parte da história de um clube que fez muito para os atletas negros, como ele.

- A importância que o Vasco tem para o Dia da Consciência Negra é total, pois ele sempre deu oportunidades aos negros. O clube sempre os respeitou de igual pra igual e é um exemplo contra o preconceito que ocorre no Brasil e no mundo - informa.

Alcir, que construiu uma longa carreira em São Januário também como técnico e auxiliar-técnico, lembra que é preciso exaltar tal feito, para que ele sirva de exemplo contra qualquer tipo de racismo que ocorra.

- É muito importante o Vasco levantar essa bandeira, é um clube sem preconceito e que vai continuar assim - garante.

Mauro Galvão

Verdadeiro 'xerife' do Vasco em um dos períodos gloriosos do clube, o ex-zagueiro Mauro Galvão, campeão carioca, brasileiro, da Mercosul, Libertadores e Rio-São Paulo, pelo time de São Januário, demonstrou sua satisfação por ter defendido a equipe que rompeu o racismo que imperava no futebol. Em sua opinião, tal atitude foi primordial.

- Acho muito importante que o feito seja citado e lembrado, pois foi essencial o clube ter dado essa abertura, independente de cor, raça. Esses coisas não deveriam acontecer. Foi bom ter tido a possibilidade de jogar no clube que quebrou esse preconceito - vibrou o eterno ídolo da torcida.

O eterno capitão fez história no Vasco, e teve, na maior parte do tempo em que atuou no clube, a companhia de Odvan, zagueiro negro, que formou uma dupla de sucesso com o camisa 4.

Odvan

Personagem que causava opiniões divergentes no período em que atuava no Vasco, devido ao seu futebol, o zagueiro Odvan, que incontestávelmente teve uma carreira vitoriosa no Cruzmaltino, mostrou-se orgulhoso com a bonita história que o clube possui em prol dos negros. Apesar de não ter tido conhecimento do fato, até então, o jogador foi só elogios ao Gigante da Colina.

- Só em saber disso já é uma importância muito grande. Gosto para caramba do Vasco e isso é motivo de muito orgulho. Esses preconceitos não aconteciam no Brasil e é importante lembrar desse feito do clube para que não ocorra mais esse tipo de coisa - disse, lembrando dos recentes casos de racismo no futebol.

Contratado junto ao Americano, de Campos, Odvan conquistou, pelo Vasco, os títulos de campeão brasileiro (1997 e 2000), carioca (1998), da Libertadores (1998) e do Torneio Rio-São Paulo (1999), tendo um total de 273 jogos, com 13 gols marcados.

Pelé

Se há alguém que serve como maior exemplo do resultado da atitude do Clube de Regatas Vasco da Gama em aceitar jogadores negros no esporte, esse atende pelo nome de Pelé. O Rei, tornou-se o maior atleta de todos os tempos no futebol e levantou a bandeira de sua raça. Ao Cruzmaltino, deu seus parabéns e mostrou sua gratidão.

- Independente do parabéns que eu devo dar pela possibilidade que o clube deu para todos os negros, os afro-brasileiros, o Vasco é o time que me abriu as portas para o mundo - afirmou o Atleta do Século.

Isso porque, em meados de 1957, a majestade pôde vestir a camisa do clube que tantou lutou pelos negros, em um combinado entre Vasco e Santos.

- Praticamente iniciei minha carreira com a camisa do Vasco. Para os mais jovens, que não lembram, houve um combinado entre Vasco e Santos, em 1957, no Rio, onde fizemos amistosos - informou Pelé, que na época das partidas, tinha apenas 16 anos.

Apesar da pouca idade, o ainda menino foi o grande destaque e marcou 5 gols em 3 jogos, fazendo com que, pela primeira vez, tivesse seu nome relacionado na lista de jogadores convocados para a Seleção Brasileira.

- O Vasco me ajudou a entrar para a Seleção Brasileira - disse, em tom de agradecimento.

*Confira os jogos do Rei com a camisa do Vasco:

Vasco/Santos 6 x 1 Belenenses-POR (3 gols de Pelé)
Vasco/Santos 1 x 1 Dínamo de Zagreb (1 gol de Pelé)
Vasco/Santos 1 x 1 Flamengo (1 gol de Pelé)

*todos os jogos foram realizados no Maracanã.

O Ofício de 1924 na íntegra

Rio de Janeiro, 7 de abril de 1924.

Ofício no. 261

Exmo. Sr. Arnaldo Guinle, M.D. presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama em tal situação de inferioridade que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.

Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma como será exercido o direito de discussão e voto, e as futuras classificações, obriga-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto a condição de eliminarmos doze (12) jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama, não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos con-sócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se a AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores jovens quase todos brasileiros no começo de sua carreira, e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glórias.

Nestes termos, sentimos ter de comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.

Queira V. Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever de V. Exa. Att. Obrigado.

Dr. José Augusto Prestes

Presidente


Fonte: Lance


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