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NETVASCO - 10/11/2006 - 16:10 - Supervisor de Futebol do Vasco comenta sobre 'gatos' no futebol

A descoberta da adulteração de documentos por parte do apoiador Carlos Alberto, do Figueirense, fez ressurgir no futebol alguns miados que andavam silenciosos desde o fim dos anos 90, quando os gatos Sandro Hiroshi, Rodrigo Gral e Anaílson - entre outros menos votados - também tiveram seus 15 minutos de fama negativa.

A pergunta que não quer calar: é possível acabar com os gatos? A resposta dada por experientes coordenadores de divisão de base de grandes clubes brasileiros e da CBF não anima: é a mesma probabilidade de se acabar com a corrupção, com a violência, com a vontade de alguns seres humanos de levar vantagem em tudo.

O que fica claro é que, a cada dia que passa e a cada novo miado que se escuta, é possível aumentar a fiscalização e dificultar muito os movimentos felinos. O GLOBO ESPORTE.COM faz uma espécie de "roteiro da caça ao gato", no qual, para alegria de ratos, cachorros, aves e tribunais de justiça desportiva - inimigos naturais dos gatos -, estão os caminhos favoritos dos felinos, como muitos foram caçados e como é possível se defender de sua ação danosa ao futebol.

GATOS: Como se proteger contra eles

A ciência e a justiça ainda não criaram um 'gaticida' 100% seguro e imune ao surgimento de felinos no futebol. Mas é consenso entre os responsáveis pelas divisões de base dos grandes times do Rio e São Paulo, e também da CBF, que hoje é muito mais difícil enganar os clubes do que há cinco anos.

Veja algumas maneiras de pegar um gato:

- BOTE QUANDO AINDA SÃO 'FILHOTES' - "Quando eu estava na CBF, criei as seleções sub-15. Quanto antes o garoto for convocado, maior a possibilidade de descobrir adulterações. Pode reparar que a maioria dos gatos flagrados quando adultos passaram por vários clubes ou centros pequenos. Se o garoto chega novinho no clube, não há como mudar a documentação", afirma o supervisor do Vasco, Nílson Gonçalves, que por 23 anos cuidou das divisões de base do clube, e durante dois anos fez o mesmo no Serrano, de Petrópolis (RJ).

- DE OLHO NO CISO - Pela arcada dentária é possível apontar um idade aproximada do jogador. "Se os dentes do ciso já estiverem expostos e ele alegar que tem menos de 16 anos, pode-se começar a pesquisar os documentos", afirma Adílson Camargo, há 13 anos médico das divisões de base da CBF, e que trabalhou com o gato Carlos Alberto, do Figueirense, na seleção sub-20.

- SE NÃO CRESCE MAIS... - Pode ser feito com raios-x ou tomografia. Observa-se o osso do braço que se liga ao punho. Em sua extremidade, há uma cartilagem chamada fisis. Até os 18 anos, quando o atleta ainda vai crescer, a fisis fica aberta, dando espaço para o crescimento do osso. Quando o garoto pára de crescer, a fisis se fecha. "Pode pegar muita gente se for feito nas categorias abaixo de 17 anos", lembra o doutor Adílson.

- GATOLÂNDIA - Ninguém fala abertamente, mas há nos clubes uma preocupação específica com determinados locais de origem dos jogadores. Se eles vêm do Maranhão ou da Bahia, há uma constante preocupação com a idade. Outro local que sempre desperta desconfiança é Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. "Já soube de meninos de idade estimada de dez anos sem registro. A maioria de pessoas muito humildes. E quando se registram, o cartório se baseia unicamente na palavra do pai", lembra Nílson.

- NA ESCOLA, AINDA NÃO SABE SE SERÁ GATO - "Quando se matricula pela primeira vez na escola, é muito provável que ele ainda não tenha decidido ser jogador, e muito menos falsificar um documento. Assim, é muito mais fácil que as informações do atleta por esse histórico sejam verdadeiras", lembra o médico Adílson. O Flamengo faz isso: para fazer o teste, o clube exige um eletrocardiograma e um atestado médico. Após duas semanas, se o jogador for aprovado e houver o desejo de federá-lo, o Flamengo exige certidão de nascimento, identidade do jogador e de seu responsável (pai, mãe ou parente mais próximo) e declaração da escola com o ano em que o menino se matriculou.

- GATO QUE NÃO AMASSA PAPEL - "Se o papel estiver muito novo, pouco amassado, pode desconfiar e investigar. Certidão é um documento que se usa muito e, com os anos, fica gasto. Já pegamos alguns gatos assim, por conta do papel da certidão estar novinho", conta Nílson.

- CARTÓRIO MUDO - "Se você pede uma informação sobre um atleta e o cartório demora a responder ou se recusa a fazê-lo, pode contar que é gato", afirma o supervisor vascaíno.

- O FILHO FAZ, O PAI PAGA - O Vasco - historicamente um dos clubes mais cuidadosos com a documentação dos jogadores das divisões de base -, antes de federar um jogador (registrá-lo na Federação), obriga o responsável por ele (pai, mãe ou algum parente) a assinar um documento eximindo o clube de responsabilidade caso se comprove, no futuro, que houve adulteração na documentação. Isso inibe as iniciativas familiares de burlar a lei.

- GATO AGÜENTA MELHOR O TRANCO - "É possível caçar gatos fazendo testes de velocidade, resistência e força muscular periódicos. Faz mais efeito nas categorias sub-17. Nelas, o gato sempre terá valências muito superiores, de forma anormal, em relação aos demais", garante o médico Adílson Camargo, que lembra que uma tentativa do gato em não se esforçar no teste, para aparentar menos capacidade física, é facilmente perceptível.

GATOS: Muitos são caçados antes de crescer

Não são muitos os gatos que já são famosos ao serem flagrados - pelo menos, em relação ao numeroso universo de jogadores profissionais. Mas seria preciso uma enciclopédia para nominar a quantidade de gatos flagrados antes de virarem profissionais.

Conheça algumas história de gatos "abatidos" antes de crescerem:

- Até Robert Kennedy era gato - "No fim dos anos 80 não havia essa tradição de gatos. Um dia, chegou em São Januário um jogador baixinho, franzino, que se chamava Robert Kennedy e dizia ter 13 anos. Colocamos para treinar, e o garoto era um avião. Fez um gol certa vez driblando quase todo o time adversário, tinha toda a malandragem de um jogador formado. À medida que foi subindo de categorias, seu futebol e sua força foram sumindo e ele ficou igual aos outros. Fomos investigar a documentação e constatamos que ele tinha seis anos a mais do que dizia. Quando chegou ao Vasco tinha, portanto, 19 anos", conta Nílson Gonçalves, supervisor do Vasco, que há 25 anos trabalha em divisões de base.

- Paraenses demais - "Numa competição de juniores recentemente realizada em Londrina, chamou a atenção que, num dos times, havia oito jogadores nascidos em Marabá (PA). E o time, além de não ser do Pará, era time grande, hein?!", conta Rivellino Serpa, coordenador das divisões de base do Flamengo. Ao ser alertada sobre o fato, a organização do torneio pediu os documentos, investigou e constatou que os jogadores eram gatos.

- Gato na Gávea - "Neste ano de 2006, tive um único caso de tentativa de fraude. Após uma denúncia, pegamos a documentação do garoto, levamos no cartório e batia tudo. Mas ao chegarmos à maternidade, ficou comprovado que ele havia nascido muito antes do que alegava", conta Rivellino.

- Felino campista - "Ano passado observamos um jogador do Americano e o trouxemos para os juniores do Vasco. Pelos documentos, ele teria 19 anos. Ao investigarmos, tudo batia no cartório. Mas a intuição me levou a pesquisar a casa de saúde onde ele nasceu. E lá constatamos que ele havia nascido dois anos antes", conta Nílson Gonçalves.

GATOS: CBF diz que não tem como prevenir

Quando a fraude feita pelo jogador Carlos Alberto, do Figueirense, foi denunciada, a CBF tratou imediatamente, através de seu departamento de registros, de afirmar que não tem como impedir as fraudes, já que recebe centenas de documentos de jogadores das Federações e parte do pressuposto de que são verdadeiros. Nas federações, a Paulista é a única que criou este ano uma corregedoria para apurar denúncias sobre gatos. O advogado da Federação, Bento da Cunha, faz a pesquisa e, quando a fraude é constatada nos papéis, o jogador é notificado e intimado a realizar o exame de idade óssea.

A CBF não tem o mesmo sistema de apuração porque seu secretário-geral, Marco Antônio Teixeira, não aceitou a sugestão feita em 2001 por Nílson Gonçalves, então coordenador das divisões de base da CBF - hoje supervisor do futebol profissional do Vasco.

- Sugeri a criação de um serviço de 0800 para denúncias sobre gatos. O Marco Antônio alegou que haveria muitos trotes e que a CBF acabaria perdendo muito tempo investigando denúncias falsas - lembra Nílson.

Nas seleções de base, o discurso de que não há como prevenir as fraudes é o mesmo.

- Como eu vou desconfiar? - indaga Branco, ex-lateral e atual coordenador das categorias de base. - O Carlos Alberto não veio na minha gestão, mas até o passaporte do cara estava adulterado, e a Fifa aceitou, na hora da inscrição. Como se vai culpar a CBF? - diz Branco.

O médico Adílson Camargo, desde 93 nas divisões de base, garante que, no máximo, é possível reduzir muito a possibilidade do surgimento de gatos.

- A Fifa faz os exames da idade óssea por amostragem. No último Mundial, dois jogadores de cada seleção fizeram o exame. Nós da seleção passamos a fazer o exame com todos os convocados. Mas é preciso deixar claro: não há a possibilidade, nem com o exame, de eliminar o gato, de flagar 100% dos casos de adulteração.

GATOS: Japonês compra gato por... gato mesmo

Em 2001, o atacante Emerson, do São Paulo, foi convocado para o Mundial sub-20, já que, por sua documentação, ele faria 20 anos naquele ano. A procedência dos papéis chamou a atenção do supervisor Nilson Gonçalves, que pediu aos médicos que fizessem exames.

Paralelamente, foi feita uma pesquisa no cartório, onde se constatou que o jogador havia nascido quatro anos antes. Imediatamente, o São Paulo foi comunicado, e o atacante cortado da seleção, antes da disputa do Mundial.

Marco Aurélio Cunha, supervisor do São Paulo, confirma que Emerson tinha os documentos falsos. Ele nasceu em 78, mas seu registro era de 81 - falsificação feita em 1996. Cunha explica que o São Paulo já estava regularizando a documentação do jogador, quando apareceu uma proposta de US$ 1 milhão feita pelo japonês Urawa Reds. O São Paulo explicou o problema na documentação aos japoneses, que, mesmo assim, mantiveram o interesse. O Tricolor, então, regularizou a papelada e vendeu o jogador.

Fonte: GloboEsporte.com




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