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NETVASCO - 11/04/2006 - 17:02 - Karatê: Ciça se prepara para o Pan 2007

Maria Cecília Maia merece um capítulo à parte na história do caratê brasileiro. Bicampeã mundial (1992, no Japão, e em 1998, no Rio), nove vezes campeã brasileira, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999 e tetracampeã do Campeonato Pan-Americano da modalidade, ela ainda sonha. O objetivo em mente é o de comemorar com uma medalha, nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, seus 20 anos de carreira no esporte.

No último fim de semana, ela foi uma das vitoriosas na terceira seletiva da Confederação Brasileira de Caratê, em Nova Iguaçu. A próxima etapa acontecerá em Teresópolis, no dia 29, quando serão apontados dois classificados por categoria. A comissão técnica decidirá a data da escolha do titular.

— O tchan (charme) do Pan é o fato de ser no Rio, minha cidade natal. Noutro local, talvez não fosse tão especial. É uma expectativa grande e tenho me preparado para isso — contou ela.

Até parece que o dia de Ciça tem mais de 24 horas. Só assim para conciliar os treinos como atleta do Vasco, a vida de casada e de mãe de três filhos e as aulas de caratê do projeto Bola pra Frente, dos ex-craques Jorginho e Bebeto, em Guadalupe, e da Igreja Batista Betânia, em Sulacap, na Zona Oeste.

Outros quatro atletas do Rio mantêm chances de ir ao Pan

Nos projetos sociais e esportivos, Ciça orienta mais de cem crianças.

— Dar aulas é uma realização. Ajudo as crianças a desenvolver o caráter. Passo a elas o que aprendi. Os olhinhos delas brilham, porque a referência de vida muda. O tráfico está próximo dali, e as mães nos agradecem — disse ela, que aos 39 anos sonha cursar serviço social.

É nos olhos das crianças que Ciça se vê refletida. Isso lhe dá forças para o dia-a-dia que começa às 8h. Ela treina até 10h. Depois, prepara para a escola os filhos Carol, de 10 anos, Ana Bárbara, de 4, e Fábio Allef, de 1 (este fica com a mãe da atleta). Das 13h às 17h, trabalha no Bola pra Frente. Às terças e sextas-feiras à noite, atua no projeto da Igreja Batista Betânia. Treina no Vasco às quintas-feiras, à noite, e aos sábados, à tarde.

— O Vasco paga nossas viagens, e lutamos por ele. Sonho trabalhar com a garotada da Barreira do Vasco igual aos outros projetos — revelou, à espera de aprovação da diretoria vascaína.

Se hoje Ciça é uma formadora de pequenos e futuros atletas, o mesmo não se deu com ela. Criada na Zona Oeste carioca, em área carente, ela jamais tivera chance de praticar esportes quando criança. Mas os filmes de Bruce Lee, nos anos 70, a encantavam. Ela queria ser uma das lutadoras que, nas telas, davam saltos e chutes certeiros. Com 20 anos, ela teve o primeiro contato com uma academia. Lá aprendeu que caratê não era violência pura.

— Foi uma paixão à primeira aula. Quando assisti a uma aula pela primeira vez, me apaixonei. Peguei um quimono emprestado e fui treinar. Nos treinos, me deparei com o respeito ao próximo e a humildade. Eu imaginava a violência dos filmes. Era filosofia — encerrou.

Pelo Rio, também continuam lutando por vagas Kátia Soares (Samara Jardim, de Macaé) e Caio Duprat, Vinícius Silva e Juarez Silva (estes do Vasco).

Fonte: O Globo