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Netvasco - 03/04 - 04:46 - Atletismo: Vasco tirou Bruno Pacheco no tráfico de drogas

Os dois primos participavam da venda de drogas no morro do Borel, na Tijuca (zona norte do Rio). "Nós dominávamos o tráfico lá", conta Bruno Pacheco, o Sapinho.

Trilhavam um caminho normalmente sem volta. Em 2001, o primo -que Bruno não revela o nome- foi alvejado pela PM.

"A morte dele me revoltou ainda mais", diz o sobrevivente, que poderia ter tido um fim parecido.

Não teve porque já seguia outro caminho. Jogador de handebol de um colégio de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), para onde a família havia se mudado, Bruno foi descoberto pelo técnico Alexandre Reis. Com a camisa do Vasco, passou a treinar atletismo.

"Aprendi a correr de tanto fugir da polícia", brinca ele, que fez iniciação esportiva em condições precárias. "Ganhei a primeira prova correndo descalço."

A vida perigosa, contudo, não fora superada. Os amigos envolvidos com drogas exerciam forte influência no jovem. "Em 2001 [com a morte do primo], abandonei o esporte e voltei ao tráfico", lembra ele, que não consegue contabilizar quantas vezes passou por situações limítrofes entre vida e morte.

"Não dá para lembrar uma hora perigosa. A vida é louca. Qualquer hora tem confronto", afirma, citando os tiroteios que enfrentou.

"Quando ocorriam as invasões, atirava no escuro. Se pegava em alguém, não sei", relata Sapinho, que chegou a ser detido para averiguações, mas nunca foi preso.

A entrada no mundo das drogas é associada à ausência de perspectivas de vida. Bruno desmente a máxima. "Fui para o tráfico não por falta de chances. Oportunidade, se procurar, tem. O crime não bate na porta de sua casa. Você é que procura. Por aventura, para se ocupar com alguma coisa..."

Por sorte, sua ocupação nas pistas já havia chamado a atenção de Jayme Netto, que integrou a comissão técnica do país em Atlanta-96, Sydney-00 e Atenas-04.

Técnico da equipe de atletismo mantida pela Brasil Telecom em Presidente Prudente (565 km de São Paulo), Jayme anteviu um futuro brilhante para o garoto.

"Vi ele correndo no Brasileiro de menores de 2001, em Londrina. O Bruno chegou em quarto lugar, mas percebi que aquele era um menino fabuloso. Quando soube que ele treinava havia só seis meses, fiquei impressionado. Ele ainda iria evoluir", analisa.

O convite para treinar no interior paulista aconteceu no ano seguinte. Robson, pai do velocista, deu aval à mudança do rebento.

"Conheci o projeto e percebi que era sério. O que ele fez pelo Bruno foi coisa de pai para filho", agradece Robson, que sustentava a família como camelô no Rio.

Parecia a realização de um sonho. Na cidade, o corredor iria conviver com Claudinei Quirino, André Domingos e Edson Luciano Ribeiro, seus antigos ídolos.

"Descobri o atletismo quando assisti à conquista da medalha de prata [no revezamento 4 x 100 m] na Olimpíada de Sydney. Foi ali que tomei gosto pela coisa."

A mudança foi brusca. De uma hora para outra, deixou a a violência, os bailes funks e os desfiles na Unidos da Tijuca, sua escola do coração. "Estranhei. Aqui tudo é calmo. Só o calor é igual", compara o carioca, referindo-se à temperatura abrasiva das duas cidades.

Não foi no morro, onde codinomes são comuns, e sim na equipe que Bruno ganhou apelido de Sapinho. "Foi por causa de um rap que ele ouvia constantemente", entrega Jayme, que é chamado de Gordo pelos atletas, mesmo depois de ter perdido 20 quilos.

Bruno sentia saudades da terra natal, da família e dos amigos. O treinador compreendeu então que não bastaria lapidar o sprint ou a força muscular do pupilo.

"Percebi que era necessário trabalhar o espírito, a cabeça dele. O Bruno chegou aqui, e aquele mundo ainda o fascinava", relata.

O temor do técnico se acirrava quando o liberava para as férias. "Combinava para o pai vigiá-lo. Ele me mantinha informado."

A cautela trouxe resultados. Nos Jogos Sul-Americanos-02, em Belém, Bruno esmigalhou o recorde juvenil dos 200 m, que era de Robson Caetano havia 20 anos. De 20s95, a marca caiu para 20s54.

"Torço para que meus recordes sejam batidos por grandes atletas e grandes homens, como o Bruno", elogia Robson Caetano, até hoje o único brasileiro a disputar uma final olímpica dos 100m.

"Fomos colegas no Vasco e ele me ajudou dando muitos conselhos", devolve o novo recordista.

As marcas já fazem seu técnico vislumbrar grandes conquistas.

"O Bruno está caminhando para se tornar o melhor velocista que o Brasil já teve. Não dou dois anos para ele virar top. No ano que vem, já vai dar couro nos caras lá de fora", aposta Jayme.

Mas também havia pedras no meio do caminho do prodígio. Uma contusão o retirou do Pan de Santo Domingo, em 2003.

O xeque-mate, que quase encerrou prematuramente a carreira do competidor, foi a frustração de ficar fora dos Jogos de Atenas.

Bruno lutava por um lugar na equipe olímpica de 4 x 100 m. O último nome do time seria confirmado pelo técnico Jayme Netto. Bruno disputava vaga com dois medalhistas de Sydney-00: Edson Luciano e Claudinei Quirino.

"Nós buscávamos índice, mas cada um dava força para o outro."

No final, o treinador optou por Edson Luciano. O time fracassou, ficando fora do pódio pela primeira vez desde Barcelona-92.

Quase um ano depois, o técnico continua sendo alvo de críticas. "Infelizmente, na Olimpíada, faltou ousadia para apostar na renovação", opina Robson Caetano.

No fim do ano, um desiludido Bruno foi liberado por Jayme para passar as festas de Natal e Réveillon no Rio. Decepcionado com o esporte, Sapinho demorou-se na cidade, fugiu dos telefonemas do treinador e voltou a freqüentar o morro, para desespero do pai.

Voltou a Presidente Prudente cinco quilos mais magro. Agora, recupera a massa muscular.

"O Bruno tem muitos amigos no caminho errado. E essas pessoas querem levá-lo de volta para lá", teme Jayme, que tem a fórmula para o discípulo não se embrenhar mais por pistas tortuosas.

"Falei que ele só volta ao Rio para o Pan-Americano [em 2007]."

Bravata. Bruno disputa o GP2 do Rio, prova do circuito internacional, em maio. "Mas ele vai ficar no meu quarto", avisa o técnico.

Com "herança" francesa, favela surgiu em 1921

Os primeiros barracos no Borel apareceram em 1921, quando houve a remoção de moradores dos morros do Castelo e de Santo Antônio.

A ocupação desordenada ocorreu em terras devolutas (abandonadas) pela família francesa Puri Borel, que deixara o local um ano antes.

Em 1954 surgiu a primeira associação comunitária no bairro, que foi embrião da atual União dos Moradores do Morro do Borel.

Estima-se que atualmente haja entre 30 mil e 40 mil habitantes na favela. Os dados não são precisos por causa da alta população itinerante.

Um dos locais mais violentos do Rio, a favela é dominada pelo Comando Vermelho. Os tiroteios são constantes, gerando pânico no morro e na Tijuca, bairro de classe média vizinho ao Borel.

Um hipermercado Carrefour foi fechado por causa da violência da vizinhança.

O morro abriga a Unidos da Tijuca, terceira escola de samba mais antiga do Rio, nascida em 1931. A agremiação ganhou só um título do Carnaval, em 1936, mas foi vice nos dois últimos anos.

O bairro foi lembrado no "Rap do Borel", da dupla William e Duda, que ganhou polêmica versão clandestina exaltando o crime: "Paz, justiça e liberdade/ Eu sou Borel/ Somos CV".

Fonte: Folha de São Paulo




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