Netvasco - 18/04 - 01:15 - Valdir diz que título é melhor que artilharia

Num Campeonato Estadual que chegou a ser apelidado de Sub-41 tal o número de jogadores veteranos em ação, o atacante Valdir tem a honra de ser o representante mais bem-sucedido entre os “velhinhos” que estiveram em ação desde o começo da competição. Artilheiro do Estadual com 13 gols, ele poderia entrar em campo hoje, na decisão contra o Flamengo, às 16h, no Maracanã, comemorando o fato de ter garantido uma conquista pessoal, que mexeria com os nervos de qualquer um, por mais experiente que seja.

Afinal, com seus 13 gols, Valdir tornou-se um concorrente difícil de ser atingido, pois o rubro-negro Jean, o único que poderia alcançá-lo, teria de marcar nove vezes no clássico e torcer para que o Bigode passasse em branco. Um fato que o atacante vascaíno minimiza, com seu temperamento antimarketing.

— O que considero mais importante é o time chegar ao título. Artilharia não mexe com a minha cabeça.

Apesar da conhecida modéstia, Valdir sabe que é um fator de decisão em favor do Vasco. Aos 32 anos, suas arrancadas, seu espírito de luta e seu oportunismo são uma dor de cabeça para os marcadores, que em tempos de decisão devem sofrer na tentativa de encontrar um modo de anulá-lo. Esse problema Valdir não enfrenta. Experiente, uma semana de final para ele é como outra qualquer. Ele não se agita, não se estressa, seus hábitos não mudam.

Companheiro de quarto de Beto na concentração em São Januário, Valdir vive com serenidade a rotina dos companheiros. Horários para dormir, comer e treinar, muita conversa com a mulher e os filhos pelo celular e nenhum sintoma de nervosismo ou ansiedade.

— A receita é simples. É como se estivesse num parque aquático: larga o corpo e deixa a água te levar — brinca.

A simplicidade de Valdir de Moraes parece infindável. Ele é o primeiro jogador depois de Romário a ser o maior goleador do Estadual com uma diferença superior a dez anos. Valdir foi artilheiro pela última vez em 1993, quando marcou 19 gols. Romário, também vestindo a camisa do Vasco, foi o goleador mais eficiente em 1986 e 2000. Nada disso, no entanto, muda o discurso humilde do atual artilheiro de São Januário.

— Ser artilheiro é bom? Sem dúvida. Mas não é tudo. Na verdade, se eu não for campeão, não significa nada. Minha principal expectativa é conquistar o título. É para isso que eu faço os gols e só a conquista do campeonato vale a pena ser comemorada. Se for com a artilharia, melhor.

Valdir não gosta muito do apelido de Sub-41 que o Estadual ganhou por causa dos veteranos. Ele reclama do tratamento que jogadores experientes têm no Brasil e elogia o esforço feito pelo Fluminense, apontado no início como favorito ao título, em virtude dos reforços de peso contratados.

— O Fluminense mereceu ser o centro das atenções. Foi o time que mais investiu, mantendo Romário e contratando Edmundo, Roger e Ramon. Ninguém falou nisso, mas eles chegaram à final nos dois turnos. Foram melhores do que nós e o Flamengo, que chegamos a um só cada um.

Valdir foi quatro vezes campeão estadual pelo Vasco (92/93/94/03), mas em nenhum dos títulos venceu o Flamengo. No Estadual de 1992, marcado pelo fechamento do Maracanã, a conquista veio numa vitória sobre o Bangu, a três rodadas do fim da Taça Rio — o Vasco já havia conquistado a Taça Guanabara. Em 93 e 94, o adversário foi o Fluminense, depois de disputar um quadrangular final. No ano passado, a decisão foi novamente contra o tricolor. Agora, o fato de não ter marcado contra o rubro-negro neste Estadual não o abala. Na final da Taça Rio, estava suspenso e no primeiro jogo decisivo, domingo passado, passou em branco.

— No fim das contas, a responsabilidade não é só minha. Eu apenas jogo mais próximo da área e tenho de trabalhar para finalizar mais.

Fonte: O Globo