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Netvasco - 13/04 - 04:04 - Maria Cecília, do Karate, não desiste de lutar

A situação de Maria Cecília Maia, de 34 anos, é ilustrativa de como o Brasil cuida mal da história dos seus heróis do esporte. Ciça, como é conhecida, é a maior carateca brasileira de todos os tempos. Ela é bicampeã mundial (em 1992 e 1998), pentacampeã sul-americana, dez vezes campeã estadual e seis vezes campeã brasileira. E se equilibra com uma dívida de R$ 20 mil para sustentar duas filhas e a mãe. Ela, porém, continua lutando.

— Não tenho revolta dentro de mim. Se tivesse, cairia doente. Não sou de perder a fé — disse Ciça, que treina no Vasco, e não entendeu até agora por que a Confederação Brasileira de Caratê não a chamou para participar das seletivas para os Jogos Pan-Americanos, em Santo Domingo, em agosto. — Pelo que fiz, merecia ao menos uma explicação. Em 2002, fiquei em terceiro lugar no Brasileiro de minha categoria (mais de 67 quilos), quatro meses depois do nascimento de minha filha.

O técnico da seleção brasileira de caratê, José Carlos de Oliveira, disse que Ciça não disputou qualquer seletiva por critérios técnicos e de posição no ranking. Mas a carateca acha a justificativa fraca.

— Fui a primeira ocidental a ganhar um Mundial de caratê dentro do Japão (em 1992). Entrei até para o “Guiness Book”. Naquela época, pensei que o governo e a sociedade me dariam um grande retorno. Enganei-me. Em 1998, no Rio, fui novamente campeã mundial e tive a mesma ilusão. Mas não perco a esperança de que minha vida vai melhorar.

Ciça passa mesmo uma grande esperança. Tem sempre um sorriso no rosto e conta a sua difícil trajetória de uma forma leve, passando uma paz de espírito pouco vista nos dias de hoje.

— Quando eu tinha 7 anos, minha mãe e meus seis irmãos fomos despejados da casa onde morávamos. Fomos todos para a rua até que uma senhora, vizinha nossa, passou a cuidar das sete crianças. Mas, depois de sete meses, o Juizado de Menores exigiu que fôssemos encaminhados a uma instituição, até porque nossa mãe não tinha mais condições de cuidar da família. Foi quando os irmãos se separaram. Fui para um educandário; outro para a (extinta) Funabem e os outros quatro foram para uma creche na Cidade de Deus.

Até que, acrescenta Ciça, uma dona-de-casa a contratou para cuidar de seus netos.

— A senhora me deu escola e moradia. Fiquei lá três anos e depois fui trabalhar em outra casa.

Após este período, Ciça, aos 20 anos, foi trabalhar como auxiliar de professora. Como começou a ganhar um salário melhor, percebeu que era hora de realizar seu sonho: lutar como seu ídolo Bruce Lee. Quando chega a este capítulo de sua história, ela deixa a modéstia de lado.

— Acho que me transformei num fenômeno. Sem passar pelas categorias de base do caratê, passei a ganhar tudo. E com 24 anos, conquistei meu primeiro título mundial — lembra ela.

Antes de alcançar o ápice no caratê, Ciça brigou contra as drogas:

— Lá pelos 20 anos, convivi com a escória do mundo. Freqüentei até casa de traficante. A religião e o caratê me ajudaram muito a sair dessa. O Mundial de 92 só veio coroar minha mudança.

Ciça tem exemplos de superação um atrás do outro. Lembra que, em 1995, tirou sua mãe Ângela Augusta debaixo de uma ponte onde morava, alugando uma casa para ela. Em 1999, as coisas aparentemente melhoraram quando foi contratada pelo Vasco. Mas com a decadência do esporte amador no clube, deixou de receber seus salários, a partir de 2001. Com isso, Ciça se viu obrigada a deixar de pagar o aluguel da casa da mãe, que foi morar com ela e sua duas netas em Realengo. Também não teve mais como pagar o seu próprio aluguel. Daí a dívida de R$ 20 mil. O marido, o goleiro Fábio Maia, foi tentar a sorte em um clube piauiense, onde ganha R$ 800. Não à toa, a alimentação da família não é a mais adequada.

— A gente come pouca carne. Sou especialista em ovo: mexido, omelete, poché ... O Brasil deveria ter uma política para os atletas que o representaram com sucesso. Essas pessoas não deveriam ser esquecidas e poderiam ser mais bem aproveitadas, até para dar exemplo a crianças que passam pelas mesmas dificuldades por que passei.

Fonte: O Globo on line




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